Fazia tempo que eu não via a rua tão movimentada. Havia algo estranho naquele ir e vir de pessoas, principalmente por ser um dia de domingo. Mas logo a tarde caía e a noite chegava com seu indescritível tom lilás. Seria mais uma noite romântica se de repente eu não escutasse um soluço cortando o silêncio da noite… Eram três crianças pedindo esmolas para matar a fome. Quando olhei em seus olhos entendi um pouco mais da dor alheia. Abstraio-me um pouco daquela cena, um problema social endêmico que a sociedade precisa resolver de imediato, e começo a pensar nas injustiças tão presentes na vida de tantos. Diante disso passo a questionar o egoísmo que sempre teima em nos fazer morada. Somos todos egoístas quando nos esquecemos de questionar os graves problemas sociais que afligem considerável parcela da população, eximindo-nos de buscar as soluções para diminuir a enorme distância entre pobres e ricos. Quase sempre não ligamos para essas coisas, achamos que é um problema dos outros.
Quando eu penso na fome daqueles garotos aflora em mim um sentimento de culpa de difícil controle. Quando eu me vejo sentando sobre tantas comodidades, usufruindo de um bem-estar inacessível à maioria da população, começo a imaginar que eu não passo de um ser inútil. O meu lado egoísta às vezes fala mais alto e eu me retraio quando deveria abrir caminhos em busca de objetivos mais edificantes. Quando eu noto os gestos egoístas, cometidos por muitos de nós, penso quão pequenos somos para compreender de partilha. Estendo que deveríamos praticar mais atos de generosidade, buscar nas iniciativas solidárias ou nas ações efetivas (assistenciais ou não) o caminho que pudesse contribuir para reduzir a postura comodista e voltada para si mesmo tão freqüente nos seres humanos. Caso contrário estaremos negando a própria essência da vida. O egoísmo reinante em cada ser humano é incompatível com os ensinamentos cristãos. Quando eu penso na vida que levo e lanço meu olhar ao redor do mundo, começo a perceber o quanto que eu sou feliz e o quanto que preciso agradecer a Deus por isso. Mas não consigo esquecer a ligação entre o egoísta e as injustiças sociais.
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Autor dos livros "Veredas de uma vida", "Sem limites para amar", "Cânticos" e "À flor
da pele". Recife-PE.
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