Para começo de conversa, quero deixar bem claro aos senhores: a vacina boa aplicaremos em nós mesmos, digníssimos membros pertencentes à bancada. Depois, imunizaremos nossos familiares os correligionários, os cabos eleitorais e aqueles eleitores de nossas bases que sejam formadores de opinião, ou, como se diz hoje, influenciadores.
Os frascos vazios nós encheremos de água e aplicaremos no povaréu. Aí está o pulo do gato. Antes deixaremos bem claro para a opinião pública que compramos toda a produção da vacina daquele governador lá. Aquele, o inominável, compreendem?
Nesse meio tempo, a nossa central produtora de fakes espalha o boato de que fomos obrigados a comprar a vacina com superfaturamento, caso contrário não nos venderiam. Isso já vai ser um escândalo para o governador inominável, diremos que aceitamos o sobrepreço para que a população não morresse. Com isso, esquentamos uma boa grana, saímos da história como salvadores da Pátria e sujamos para os opositores.
A população, supondo-se imunizada, vai aglomerar muito. Vai aglomerar com gosto, para tirar o atraso. Acontece que, como teremos aplicado injeções de água, vai morrer gente adoidado. E colocaremos a culpa no governador inominável – afirmando que estávamos certos quando dizíamos, há muitos meses, que a vacina dele não prestava, mas que tivemos que comprar por ser a única disponível em quantidade suficiente. Sairemos do episódio como vítimas do calça justa, que cairá em desgraça.
Em seguida, entramos no Congresso com um pedido de verba suplementar emergencial para adquirir uma outra vacina no mercado internacional, que realmente funcione. Como vai funcionar, pois desta vez aplicaremos a vacina de verdade, nosso capetão será glorificado e louvado do Oiapoque ao Chuí. Enquanto isso o inominável pouco a pouco se tornará uma vaga lembrança, um capítulo negro e esquecível na história deste país.
Esta é uma obra de ficção.
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