Simplicíssimo

o big ode (após algum Bukowski)

Oh! Você deixou crescer o bigode!
Acenei com um sorriso e pensei cá com meus botões que, na verdade, eu simplesmente havia retirado o cavanhaque. Algumas pessoas estranharam outras se surpreenderam, muitas nem sonham, há os que pouco se importam, tantos guardaram seus comentários, uns poucos elogiaram. Mais alguém:

– Ei! Há quanto tempo você está de bigode?
– Desde que eu tirei o cavanhaque, respondi já com certa ironia.
Não faltaram comparações. Do antes e do depois, da minha pessoa com outras tantas, gente famosa e gente anônima. Os mais tímidos, cautelosos ou sabe-se-lá-o-que, só ousaram comentar na carona de um primeiro, segundo ou terceiro.

– Como você fica diferente de bigode!
– É verdade né, ele muda bastante …
E lá ia eu de novo:
– Pessoal, eu apenas retirei o cavanhaque …
blá blá blá,. blá blá blá e blá blá blá

Por fim, o espelho de casa gritou. Ainda não tenho certeza se de espanto, felicidade ou mero impacto narcisista. E na mesma hora refletiu em minha memória, ao melhor estilo dejavu, uma foto antiga, em preto e branco, de um jovem milico. Revirei o baú de fotografias (acho que todo mundo tem um) e lá estava e imagem, verdadeira materialização do meu flash.

– Nada contra, mas que fica brega fica. Disse uma grande amiga.
A essas alturas já tinha entendido o quanto se tornara uma questão de honra, de sangue do meu sangue, aquele conjunto de pêlos abaixo do nariz. Por isso abdiquei da usual resposta, muito embora não possa negar que tive que fazer uma forcinha para segurá-la. Mas bastou um aceno com os ombros e sobrancelhas como quem diz “pois é” ou “paciência”.

Até que me encontrei com o cara da foto antiga. Um forte abraço, como de costume e já fui logo tomando a dianteira:
– Olha só, resolvi deixar crescer o bigode!
E antes mesmo que ele esboçasse qualquer reação, aquela mulher que sempre o acompanhava disparou em voz tranqüila:
– Eu te disse que ele havia tirado o cavanhaque!

Foi estarrecedor. Estava eu num misto de choque, espanto e conforto. Até que enfim alguém me entendera, justo quando eu mesmo já havia jogado amendoins aos elefantes. Um sorriso loquaz desenhou-se em minha boca no mesmo instante em que escutei o brilho dos meus olhos estalarem um “plim” televisivo. Foi supimpa, uma redenção. Era o ponto final da questão.

E então ela prosseguiu com sua mesma meiga voz:
– E então meu filho, que mais você nos conta?

Eduardo Hostyn Sabbi

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