Se o homem é um ser que anseia por respostas, deve ser porque é rodeado de perguntas. Ou vice-versa. Antes mesmo de uma criança nascer já estamos nos perguntando se vai ser saudável, se vais ter um grande futuro e, entre outros pontos de interrogação mais, o popularíssimo qual será o seu sexo (e dizer que a ecografia acabou com os bookmakers de plantão). Já em tempos longínquos, nos contam os mitos gregos da existência de um lugar para solucionar problemas: o oráculo. E não é muito difícil imaginarmos a sua semelhança com as tendas de cartomantes de hoje. Mas fazer o que se a demanda existe, existe e está bem dentro de nós. Queremos saber a resposta, a qualquer preço, a todo custo. Queremos saber a resposta. Aliás, queremos todas as respostas! E em tempos modernos, onde os botões estão gradativamente atrofiando nossa capacidade muscular, vejo com pesar o comodismo agigantar-se.
A minha experiência pessoal com informação na web é desalentadora. No meu site drgate (lê-se doutorgate), existe uma seção para responder dúvidas, um oráculo. Sempre foi muito claro para nós que esse oráculo não era um consultório médico. Mas quando imaginávamos que poderíamos orientar e esclarecer os internautas sobre sua saúde, veio a frustração e vimos que “o furo era mais embaixo”. De cada 10 perguntas enviadas ao site, 4,5 têm sido de pessoas que querem um diagnóstico ou tratamento para seus males. Nos informam os resultados de exames ou descrevem o que sentem. Como pode alguém querer tão complexas respostas sem ser examinado pessoalmente? A valor reduz a sua saúde! Para piorar, outros 4,5 têm correspondido a estudantes solicitando respostas para seus trabalhos acadêmicos nos mais diversos níveis de graduação, incluindo solicitações para que façamos um trabalho completo (pasmem!). Onde foi parar a curiosidade de abrir um livro na biblioteca? Fico imaginando que a busca de informações não se restringiu ao meu site, repleto de especialistas muito capazes e cuidados éticos.
Faça o teste, procure pela palavra “coração”, como se buscasse uma pesquisa a respeito do órgão que bate fervoroso em nosso peito. Zilhões de resultados misturados entre artigos médicos, instituições, cartas de amor, poesias, blogdesabafos e tudo mais. Que tipo de informação sadia conseguirá cada internauta? É difícil para um leigo saber o que é sério e o que é picaretagem. Já vi muito site por aí que se presta a fazer de tudo pelo aluno, que dá consultas para um paciente e até mesmo um divã virtual (não me imagino tratando alguém sem saber se é ele mesmo que está ali, sem ver as feições no seu rosto ao me contar o que lhe aconteceu e sem perceber as expressões corporais em reação ao que lhe digo). Façamos um exercício. Sabem aquela imagem de uma senhora pelancuda numa sala de bate-papo, se fazendo passar por modelo ao conversar com um barrigudinho escroto que se diz atleta? Pois faça da questão física ou estética apenas um simbolismo e troque para um aluno que se diz aplicado querendo a resposta da lição de casa de um site que se diz idôneo ou de um doente em busca de um médico cibernético.
É inegável o avanço tecnológico da Internet e seus benefícios. Mas tem me preocupado muito a cegueira do também inegável comodismo humano. Isso me faz apostar que nem Nostradamus e sua turma de profetas, nem búzios, nem tarot, nem cartomantes e muito menos a ciência e suas teses nas prateleiras empoeiradas das bibliotecas arrancarão o título de oráculo do milênio do Google, Alta Vista, Yahoo ou coisa parecida!
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