Uma amiga já tinha lhe dado a letra, mas ela não fez daquilo uma aposta. Não era do seu caractere sair por aí enlouquecida pelo que os outros diziam. É certo que quando enlouquecia era difícil conter seu ímpeto, mas isso só acontecia vez que outra, em presença de tinta rara. Costumava criticar o sedutor apelo da G, sempre gabando-se pelo ponto que era só seu, mas também não poupava a Z quando se repetia em sua enfadonha sonolência. Na verdade tinha se tornado uma crítica e tanto, ao que todos apontavam como o principal motivo de sua solidão. Que fosse, melhor assim do que ficar sempre abanando o rabo como a Cê Cedilha, que nunca se acertou nem com ela, nem com o I. Eles não gostavam mesmo de rabo. Dizem que sempre chamavam o U quando a charmosa Q aparecia com seu penduricalho. Mas isso não nos interessa muito agora, já que vou lhes falar da aparição de Til.
Poderia ter sido qualquer um, poderia não ter sido ninguém. Mas o alfabeto não lhe deu escolha. Tudo foi acontecendo sem que se desse conta, sem saber ao certo que acontecia, mas era fato e, inegável com tal, acontecia. Era viva e perspicaz a ponto de saber que algo lhe faltava, que havia perdido sua tônica e há muito não se sentia bem nos encontros casuais tanto com as principais (as da voga) quanto com as consoantes. Mas Til apareceu do nada, como sempre acontece em contos como esse e suponho não precise eu ficar me delongando nessa parte. E apaixonou-se por Til mesmo antes de ver sua bem torneada silhueta. As mesmas que eram o centro da inveja do Circunflexo e muitos Parênteses já tinham aberto. Aliás, a esposa do Parêntese já estava de saco cheio, pois sempre tinha que aparecer para fechá-lo. Mas só ela podia fazê-lo, pois o completava como ninguém. Claro que não eram os únicos. As Aspas que o digam, pois andavam costumeiramente juntas do início ao fim. Ah sim, as curvas de Til. Balançaram-na por completo, encheram-na de motivação. A cada dia, não via a hora de ao menos falar com ele. Sentia-se com mais brilho, tinha outra harmonia. Todos perceberam que ela soava diferente, independente da tinta ou do papel. As paixões fazem isso com todo mundo ou quase todo mundo, acredite. Aliás, não sei se peço para vocês acreditarem na regra ou na exceção. Pois todo mundo nesse mundinho segue ora uma, ora outra.
Til? Til não estava nem aí. Surgia com seu charme, dava o ar da graça, mas logo ia fazer outra cabeça. Páreo duro ele, nem queiram saber. Não que ela não tenha insistido ou feito o possível para mantê-lo sobre si. É que Til insistia em respostas vagas. Nisso ele era bem diferente do Agudo e do preciso Pingo no I. Por vezes sentia-se tão maltratada, como se ele a estivesse pisoteando. E foi assim que aos poucos as aparições de Til foram tomando tom fanhoso, cansativamente fanhoso diga-se de passagem. E como teve até quem zombasse de sua história apaixonada, resolveu guardá-la para si, até que não fosse possível agüentar as pontas. Até que esse dia chegou. Convenceu-se de que Til não lhe servia e lamentavelmente concluiu o que todos o fazem, quando o fazem. Til era igual a toda a sua CIA, igual a todos os outros acentos, fossem eles virados para cá ou para lá, retos ou curvos. E então foi uma pena. Que mais posso contar para vocês? Deu-se assim mesmo, sem final feliz. Não posso fazer nada. Terminou como se nunca tivesse começado, como se não fora real. Ficou ali, perdido num site, como um texto qualquer, assim, com todas as suas letras.
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