Ele acordou num espanto; algo muito rápido havia acontecido; parecia que o mundo estava acabando. Olhou à sua volta, ainda zonzo, e tudo foi clareando: ele estava soterrado. Tateou na semi-escuridão abaixo da terra com o coração que parecia estar arrebentando no peito: lembrou-se do filhinho; súbito, sentiu um calor que aquecia seu corpo era seu menininho de 6 meses que olhava para o pai inocentemente, não tendo a mínima idéia do que ocorrera; o pai lembrou-se de tudo como acontecera tão rápido e que ele só teve tempo de segurar seu filhinho contra o peito para protegê-lo. O soterramento na cidade de Nova Friburgo nestes dias em que a chuva castigou o Rio de Janeiro. Seu filhinho Nicolas aparentava estar bem. Eles ficaram a salvo devido à laje da casa que desmoronou, formando então uma câmara onde os dois ficaram protegidos. O pequeno Nicolas estava somente com uma blusinha azul, sem fralda. Para sobreviver o pai colocava a língua na boca do filho e isso o mantinha hidratado até que chegasse alguém para salvá-los. Ele batia constantemente com o punho da mão na laje para chamar por socorro, seus dedos sangravam mas ele não desistia. Não entende como conseguiu ter forças para ficar por aproximadamente 12 horas sob a terra esperando que alguém os socorresse; talvez o seu filhinho é que lhe dava esperanças, mas, acima de tudo, Deus. Cansado, sem forças, mas sempre tomando conta de Nicolas reidratando-o e com sua fé continuou fazendo todo tipo de barulho para que os ouvissem. De repente no meio de pedras, matos, madeiras e todo tipo de entulho um céu se abre acima deles como para recolhê-los. Ele não se conteve e chorou dando graças. Estavam a salvo.
(uma singela homenagem ao pai que salvou a si e ao filho por ocasião do soterramento em Nova Friburgo- RJ)
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