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José Saramago – As intermitências da morte


José Saramago – As intermitências da morte

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            Quem já leu Saramago, já sabe o que esperar. Uma literatura irônica, nem sempre sutil, uma cotovelada na orelha do sistema político português e, é claro, diálogos que se acotovelam pontuados apenas com uma vírgula seguida de uma Maiúscula.

            Lendo “As intermitências da morte” me lembrei do livro Bartleby e Companhia, em que o escritor Enrique Vila-Matas apresenta um personagem que acreditava que Saramago lhe roubava as idéias para escrever seus livros. Mal ele havia pensado em um projeto de livro, em poço tempo Saramago lançava o livro com a idéia por ele pensada. Lembrei porque eu mesmo tenho comigo uma teoria que os “normais” chamariam de maluca: a da mortalidade condicionada à crença na inevitabilidade da morte. Em outras palavras: só se morre porque se quer ou porque se acredita que todos devemos morrer em algum momento. O primeiro passo para a imortalidade é acreditar que ela é possível.

            Voltando ao livro, Saramago conta a história de um país em que, de uma hora para outra, a morte resolve parar seus trabalhos e ninguém mais morre. O que parece ser uma bênção é, na verdade, uma tragédia. Saramago narra, com muito humor, o ponto de vista dos agentes funerários, das companhias de seguro, da Igreja e, é claro, com sarcasmo e grossa ironia, do Estado. A história, a partir da metade do livro, tem uma reviravolta interessante, quando passa a focar sobre a vida de um cidadão apenas – um músico, mais especificamente um violoncelista – que, por uma falha indescritível da morte, tem sua vida adiada involuntariamente e a morte dica sem saída para terminar seu trabalho.

            Se não é um romance denso e profundo, serve para algumas reflexões acerca da morte e o morrer, como diria Elisabeth Kubler-Ross. Leitura de fim-de-semana. Necessita atenção em função da pontuação. 

 

Companhia das Letras – 2005 – 3ª impressão

Rafael Reinehr

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