Acordou cedo naquele 26 de dezembro. O motivo era justo: abrir o portão eletrônico para sua amada ir trabalhar. Desde que haviam se mudado para o novo apartamento, ainda não tinham feito uma cópia do controle do portão e quando ambos precisavam abrir o dito cujo, ficavam empenhados.
Já é mais do que tempo de mandar fazer um outro controle, pensava enquanto o frio das 6 horas batia de frente no seu corpo que resolveu se aventurar sem camisa pátio adentro. Carol seguia na frente, pequena mochila com roupas e pertences na mão e a idéia de ter que chegar até às 8 horas em um município noventa quilômetros distante dali.
Depois das despedidas de praxe junto ao carro, beijo, abraço, desejo de boa viagem , te cuida, tu também, vai devagar, daqui a dois dias nos vemos, te amo, eu também, Rafael abriu o portão com o controle eletrônico e viu o Carro de Carol se despedir através da grande abertura do portão da garagem do edifício.
Aquela manhã não era como outra qualquer. A pesar de não haver nada especial programado, parecia ser o começo de algo especial, que já vinha sendo planejado há anos.
Subiu as escadas com a tranqüilidade de alguém que só voltará a trabalhar dali a seis dias, pensando em mudar seus planos para as próximas horas: pretendia voltar a dormir, tão logo pusesse os pés no apartamento. Agora, já pensava em uma torrada com pão integral, um bom café preto e uma manhã de organização mental e do seu escritório.
Ao entrar no apartamento, surgiu aquela urgência que temos quando estamos apertados fisiologicamente, e teve que ir ao banheiro. Depois de cumprida sua necessidade fisiológica, sentou-se à frente do computador, cujo cooler zunia de tão cansado. Passara a noite inteira fazendo download de músicas no limewire. Teclou Gene Austin, Patti Austin, Frankie Avalon, The Average White Band, Mitchell Ayres e Don Azpiazu no espaço artista do programa de troca de arquivos e foi preparar sua torrada.
Atravessando a sala, pensou no que fazer depois de colocar mais algumas músicas para baixar. Na geladeira, nem 1 fatia de queijo, presunto, chester, nada. Pão havia, mas o que pôr dentro, necas. Pegou um pote de nozes pecã que havia comprado alguns dias antes. Afinal, ômega-3 nunca é demais (sabia que era, mas isso não vem ao caso).
Sentiu que a história podia virar um livro, mas ninguém estava preocupado com a história da sua vida. Todos estavam em clima de festas. Recém passado o Natal, as crianças ainda brincando com suas bonecas e carrinhos cheirando a novo. Alguns já preparavam a passagem de ano na Guarda do Embaú, outros, com menos (ou mais) sorte, iam passar em casa a virada.
Se tinha uma coisa que ele sabia, é que algo tinha que ser feito. E ele foi lá e fez.
Feliz 2007 para você que nos acompanhou durante o ano inteiro e também para você que só conheceu este site nos últimos minutos. Que grandes realizações saiam do projeto guardado em sua cabeça e tomem vulto na realidade da sua vida. São os sinceros desejos deste editor e de toda equipe do Simplicíssimo. Ao xará Rafa Rodrigues, um até logo e sucesso em sua empreitada no Digestivo Cultural, em sua faculdade e no seu novo trabalho.
Rafael Reinehr
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