Acordou cedo, tinha que fazer o texto da semana, tarefa interessante mas que demandava alguma dedicação a mais. Foi ao banheiro, esfregou os olhos, jogou uma água fria no rosto. Acorde rapaz! Disse para si mesmo. Caminhou até a sala, onde estava o Balaio de Letras, atrás de algo que desse início à criação. Sempre encontrara muita coisa boa por ali. Esparramado o alfabeto, escutou ao longe a cantiga suave e bonita de um pássaro. Correu para a janela. Em tempos modernos, nem sempre se conseguia repartir o ambiente com a natureza. Dali avistou o bicho. Sim, era a Cantilena do Corvo. Ficou feliz da vida. Foi até a cozinha e preparou um bom chimarrão. De mate na mão, começou a lembrar dos tempos de piá, quando corria livre na estância do avô, que adorava lhe contar os interessantíssimos Contos Missioneiros. Ficava encantado com o repertório do velho. Era história que não acabava mais, assunto de todo o tipo e até Fábulas de Marmota. Nunca tinha visto esse tal de bicho, mas gostava muito do que aprendia dali. E agora tinha que escrever algo. Que Fugaz a sua concentração. Parecia aparecer só de vez em quando. Quisera estivesse sempre presente, sua vida renderia muito mais. Mas sabia que nem tudo era como se queria. Por onde andava aquela gaúcha que se mudou pro Mato Grosso, que vez por outra aparecia com suas divertidas passagens de Histórias Matuchas? Para seguir na vida, era preciso descontruir a realidade, ser um pouco I-Racional, pensou. Lutar no faroeste, mirabolar uns poemas sem pé na cabeça. Ai se caem…
Perdeu-se de novo nos seus pensamentos. Pareciam Labirintos que, sempre ricos em detalhes e descobertas que dão vida ao ambiente, não nos deixam sair sem antes conhecê-los bem. Mas isso de ter que escrever … era uma Liberdade Vigiada, assim inexplicável e saborosa, mas que há algum tempo andava meio adormecida. Revisou os Manuscritos. Tão intensos, quase teatrais, quase performáticos. Um brinco, uma pérola, enfim, já estavam escritos. De novo, nem tudo é essa linha reta na vida. Algumas vezes é reta sim, mas num ângulo O Blíquo, que eventualmente exige alguma bebida para acompanhar o estupendo retrato do cotidiano. É que, quando a gente acha que tudo acabou, sempre temos O Curinga na manga, trunfo de excelentes e bem definidas idéias, ora brevíssimas, ora maiores. Achou que isso podia ser mesmo coisa de escritor. Ter uma Parafernália de Passagem, escrever a quatro mãos e não perder a linha. Falando nisso, cadê o seu artigo? Puxa vida, era muito legal ficar divagando em maravilhosas entrelinhas que, com pouco, diziam tudo, mas precisava se esforçar Sem Contos Longos. Parou para refletir. Se morasse num lugar mais requintado talvez fosse mais fácil. Mas não melhor. Estar de volta às áreas Suburbanas lhe causava enorme felicidade. Sempre gostou muito daquele espaço.
Só ali podia curtir as novidades de uma Prima Lettera, as emoções incotroláveis de um Poetikaos, flashes que geravam filmes inteiros em forma de Miniconto do Dia, revelações curiosas das poucas e boas Entrevistas casuais e uma infinidade quase avassaladora de efeitos que tornam até as Colunas Adormecidas. Mas ele estava acordado. Muito bem acordado. Tinha um dia cheio pela frente. Não podia enrolar mais. Então decidiu, assim será o Editorial.
P.S.: Estamos crescendo: esta edição está enorme, em tamanho e conteúdo. Além dos colunistas habituais, temos a estréia de Lilly Falcão e Frank Santos com seus minicontos, a confirmação do retorno do Marcos Claudino e da coluna Fugaz (Pedro Volkmann atacando com dois textos). Muito bom!
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