Nos últimos anos, a percepção de que muitas desordens do desenvolvimento, notavelmente o autismo, e uma série de cânceres em crianças e adultos, tem aumentado em incidência, levou à renovação do questionamento e busca a causas ambientais que pudessem justificar tais enfermidades.
A associação de poluidores ambientais, produtos químicos derivados da indústria que são liberados na água, no solo e na atmosfera (e que estão presentes nos mais variados produtos que consumimos) não é nova. Ainda na década de sessenta, Rachel Carlson agitou o mundo com seu livro Primavera Silenciosa (1962), em que apresentava associações claras entre produtos químicos derivados da poluição ambiental, mais especificamente o DDT, um poderoso pesticida, com malformações fetais, danos genéticos e o surgimento de cânceres.
Um estudo recente analisa o incrível crescimento na incidência de autismo desde 1943, quando foi descrito pela primeira vez até a atual taxa de quase 1% das crianças (dados do Centers for Disease Control, EUA). Um artigo publicado no Current Opinion in Pediatrics faz um elo entre este aumento de incidência e os polutantes ambientais.
O artigo cita estudos historicamente importantes que ligam especificamente o autismo a exposições ambientais na fase pré-natal e afirma que a chance de muitos químicos potencialmente causarem dano ao cérebro em desenvolvimento e produzir desordens neurodesenvolvimentais é grande.
A exposição, ainda no útero ou logo depois do nascimento a uma série de produtos químicos que interferem com o desenvolvimento cerebral, possuem consequências que duram para toda a vida. Toxicologistas, endocrinologistas e oncologistas tem notado de forma mais acentuada os efeitos dessas substâncias no dia-a-dia de suas profissões. Já é conhecida de tempos a associação entre talidomida, misoprostol e o ácido valpróico ocm o autismo. De crianças nascidas de mães expostas ao ácido valpróico, um anti-convulsivante, durante a gestação, 11% se tornaram autistas.
À medida em que buscamos melhorar nossos cuidados à saúde, é importante nos curvarmos sobre os riscos dos químicos que nos envolvem. Para se ter uma ideia da amplitude dos químicos e sua relação com nossas vidas, detectou-se que, em mulheres com níveis urinários mais altos de ftalatos (encontrados comumente em fragrâncias, xampus, cosméticos e limpadores de unhas), suas crianças anos mais tarde tendiam maior chance de apresentar disfunções de comportamento.
As toxinas contidas nos plásticos que utilizamos, quer seja nos produtos que levamos ao microondas para esquentar nossos alimentos e até nos brinquedos chineses usados por nossas crianças, não ficam fluorescentes ou gritam para nos alertar de sua presença, muito antes pelo contrário: estão devidamente ocultos e causando seus efeitos através da acumulação tóxica em nossos organismos.
Hoje estamos tão cercados de edulcorantes, surfactantes, emulsificantes, acidificantes, corantes, estabilizantes artificiais, sem contar os pesticidas e produtos claramente tóxicos que fazem parte do nosso dia-a-dia, não por absoluta necessidade, mas por um relativo conforto e, principalmente, pela necessidade da indústria de tornar mais prático e barato produzir seus produtos. Não existem diferenças entre agrotóxicos contrabandeados do Paraguai e aqueles fabricados legalmente aqui. Todos fazem parte do mesmo problema, e quem está pagando o preço somos nós mesmos.
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PS: seja bem-vinda Tania Montandon, que estréia hoje a mais nova coluna do Simplicíssimo, Travessia. Seja bem-vinda e sinta-se em casa!
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