Por vezes me sinto completamente perdido no mundo. Não sei se vivo no meio de loucos ou se, sinceramente, louco estou ficando eu.
Recentemente, um médico alemão foi condenado a sustentar por 18 anos um bebê gerado depois que o tratamento de anticoncepção que ele ministrou à mãe não funcionou. Tratava-se de um implante que deveria funcionar como contraceptivo por 3 anos, entretanto a paciente acabou engravidando 6 meses após. A mulher havia conseguido um emprego como professora, mas teve de interromper a carreira para cuidar da gestação. O juiz que condenou o médico previu um pagamento mensal de 600 euros por mês à mãe, até que o agora bebê atinja 18 anos.
Está acontecendo, mundo afora e também aqui no Brasil, uma tentativa de transformar o trabalho do médico, considerado atualmente uma atividade meio, para uma atividade fim. Ou seja, querem tornar o médico responsável pelo desfecho do tratamento, quando hoje sua responsabilidade é envidar seus maiores esforços para recuperar a saúde do paciente. Não bastará mais ao médico garantir seus máximos esforços para resolver ou atenuar a enfermidade do paciente. Confortar, quando somente isso é possível, não será mais permitido. Deve-se curar! No dia em que esta conduta estiver generalizada (atuação médica como atividade fim) a medicina terá acabado. Pretende-se tirar o médico da condição de humano e transformá-lo em um deus, com poderes totais sobre a vida e a morte, sobre a cura e a doença. Isso não existe!
Toda esta argumentação se baseia no fato de que o médico não foi julgado imperito, imprudente ou negligente, crimes previstos no código penal brasileiro. Em caso de imperícia (o médico não ter implantado devidamente o anticoncepcional), aí se justifica o processo. Mas não foi o que ocorreu. Se a falha foi do anticoncepcional, quem deveria ser responsabilizado era o laboratório médico que o fabricou. E se a falha foi induzida pela própria paciente, através da manipulação do implante? Todas essas informações não nos chegam, mas levantam questões a serem discutidas.
Sensacional o ponto de vista do Die Welt, que atentou para o fato de que a decisão possui uma perversidade intrínseca, no momento em que considera o nascimento de uma criança como um prejuízo. No editorial, escreveram “Mais do que a sugestão de que ele não era desejado por seus pais, o bebê tem agora a confirmação oficial de que nasceu por um erro”.
Agradeço ao amigo Celso Sagastume que trouxe este assunto à tona, na lista de discussão da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Ele sabe que não concordo com ele em um ponto: de que tudo poderia ser resolvido com um “simples” aborto. Mas isto é tema para outro momento.
Rafael Reinehr, cada vez mais preocupado com o próprio estado de (in)sanidade mental.
PS: Parabéns ao meu Amor, Carolina Schumacher, que passou em seu primeiro Concurso Público. Agora ela é a psicóloga do município de Mata, a cidade das árvores fossilizadas. A Carol ficará de responsável pela saúde mental de todo município. Ta pensando o quê? A bichinha é fera!
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