Em outubro, completamos 82 anos da publicação, por André Breton, do Manifesto Surrealista. No início da década de 20, o movimento dadaísta, vanguarda até poucos anos antes, tinha seu fulgor praticamente extinto. Figuras como Breton, Benjamin Perét, Paul Elouard, Francis Picabia e Max Ernest passaram a procurar novas formas de expressão artística.
Nos anos seguintes, poetas como García Lorca, pintores como Salvador Dali e René Magritte e o cineasta espanhol Luís Buñuel, cujo filme, Um cão andaluz, tornou-se um dos ícones do movimento, juntaram-se ao movimento.
O surrealismo era caracterizado por um assim chamado “automatismo psíquico”, mediante o qual se pretendia expressar, seja verbalmente ou de outra maneira, o funcionamento real do pensamento, segundo André Breton. O resultado era a escrita automática, em que a “ausência da fiscalização exercida pela razão, pela moral e pela estética” permitia ao artista uma liberação total do seu espírito criador. A valorização das formas ilógicas e não-racionais do conhecimento. “Deixai o inconsciente falar” – diziam os surrealistas, celebrando não apenas os fluxos de idéias e imagens vindas das camadas não-policiadas da mente, mas também o sonho, a imaginação, a associação livre, a hipnose, os estados de transe e a loucura. As descobertas de Freud sobre o inconsciente levaram os integrantes do movimento a se aproximar da psicanálise. Estabelecimento de uma arte “mágica”, insólita, que surpreendesse continuamente; criação de atmosferas de irrealidade e de delírio; junção inesperada de objetos incongruentes; elaboração de imagens extravagantes, etc. Certos quadros de Salvador Dalí, Renée Magritte e Max Ernest, por exemplo, até hoje causam impacto pelo inusitado de sua expressão.
A estética surrealista apresentava certa aproximação com a política. Há uma identificação coletiva do grupo com as idéias comunistas. Revolução e arte se conjugam. A fórmula desta combinação é traduzida assim por Breton: “Mudar a vida, dizia Rimbaud; transformar o mundo, dizia Marx; para nós, esses dois lemas formam um só.”
Em tempos fictícios, como dizia Michael Moore ("Nós vivemos tempos fictícios. Vivemos numa época em que temos resultados artificiais de uma eleição que elege um presidente fictício. Vivemos numa época em que temos um homem nos mandando para a guerra por razões artificiais…”) na premiação ao Oscar 2003 de seu Tiros em Columbine como melhor filme documentário, um pouco de surrealismo no s próprios olhos é cerveja gelada rapêize! Porque agüentar a triste realidade, todos os dias, dá não!
Eis o que se disse sobre o surrealismo (retirado da Wikipedia – não foram encontrados os autores das frases):
“A atitude realista é fruto da mediocridade, do ódio, e da presunção rasteira. É dela que nascem os livros que insultam a inteligência.”
“A mania incurável de reduzir o desconhecido ao conhecido, ao classificável, só serve para entorpecer cérebros.”
“Hoje em dia, os métodos da Lógica só servem para resolver problemas secundários”.
“A extrema diferença de importância, que, aos olhos do observador ordinário, tem os acontecimentos de vigília e os do sono sempre me encheu de espanto. (…) Talvez o meu sonho da noite passada tenha dado prosseguimento ao da noite anterior e continue na próxima noite com rigor meritório.”
“Digamo-lo claramente de uma vez por todas: o maravilhoso é sempre belo; qualquer tipo de maravilhoso é belo, só o maravilhoso é belo. (…) Desde cedo as crianças são apartadas do maravilhoso, de modo que, quando crescem, já não possuem uma virgindade de espírito que lhes permita sentir extremo prazer na leitura de um conto infantil.”
“Oxalá chegue o dia em que a poesia decrete o fim do dinheiro e rompa sozinha o pão do céu da terra.”
Finalmente, parafraseando Dali, "A pintura é apenas uma minúscula parte do meu gênio" e "A única diferença entre um louco e eu, é que eu não sou louco".
Rafael Reinehr
"As coisas mais belas são ditadas pela loucura e escritas pela razão" – André Gide
PS: a propósito, a próxima edição é a de número 200! Isso é, talvez, quem sabe, pode ser, certamente, motivo de festa. Sugestão da casa para você colunista: escreva seu texto com o tema "duzentos" ou "200". Vamos ver o que vossa ferina inventividade tem a dizer. Só não tenha pesadelos!
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