Simplicíssimo

Entrevista com Líria Porto, poeta

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CC: Líria, você sabe que eu conheci sua Poesia há pouco tempo… Lembro que quando encontrei seu blog fiquei completamente apaixonado: encantado pela força das suas palavras, pelo humor sutil, pela Literatura maiúscula que acabara de descobrir. Enviei o link do seu blog para o Ádlei Duarte de Carvalho, também poeta e escritor (mineiro, assim como você), que me respondeu o seguinte: “Muito bom. Gostei. Ela tem um cheiro de mineirice, de interior, que gosto muito.” Pois então, de onde vem Líria Porto? Você é mineira, de que cidade? Fale um pouco sobre você: sua infância, sua adolescência… Você vive em “Belzonte” (risos), não é?
Líria Porto: Nasci em Araguari, triângulo mineiro, região muito plana, diferente das montanhas de Belo Horizonte, onde moro há mais de 40 anos. Sou privilegiada, aprendi na infância a enfrentar diretamente o que vem pela frente – depois aprendi que também se pode sonhar com o que está atrás dos montes…
Desde que me entendo por gente gosto das letras, das palavras! Minha mãe contava que comecei a ler sozinha e antes da idade em que as crianças, por lei, tinham permissão para entrar na escola… Meus pais encontraram uma alternativa, freqüentei o Externato Santa Terezinha, escola particular, a partir dos 5 anos, e já alfabetizada.

CC: Você ainda é inédita em livro, certo? Por quê? Nunca quis publicar ou não teve oportunidade?
Líria Porto: No colégio era boa aluna de português, criativa, escrevia quadras, pequenos poemas, participava ativamente dos eventos literários… Casei-me, vim para Belo Horizonte, tive filhos, e de alguma forma hibernei como escritora – lia outros autores, outros poetas, mas não produzia texto algum – isso durou umas três décadas!

CC:
Quando você começou a escrever? E quando você se descobriu poeta? Já vou logo avisando que não vou chamá-la de poetisa (a menos que você queira), tá? Acho essa palavra horrível.
Líria Porto: Comecei a sentir necessidade de me expressar de outras formas, entrei para uma aula de pintura num curso de extensão na UFMG e foi absoluta a falta de talento – num daqueles dias, uma das colegas pediu-me um texto para acompanhar um quadro seu, vencedor num concurso, e o que escrevi com muita naturalidade foi um poema – entreguei-o a ela sem o assinar… Percebi que escrever era o meu caminho – de lá para cá faço-o todos os dias, se bem que no (re)começo não tinha coragem de mostrar a ninguém aquelas ousadias…

CC:
Por que você escreve?
Líria Porto: Por que escrevo? Não sei… Talvez porque já não consiga viver sem a escrita – além de ótima companhia, com ela mantenho “diálogos” interessantes…

CC:
Além de escrever em seu blog, onde mais você publica?
Líria Porto: Tenho publicações em alguns sites: escritoras suicidas, germina literatura, cronópios, casa da cultura.org, interpoética, garganta da serpente, jornal da poesia, paralelo 30, entre outros… Sem falar do blog pessoal e do putas resolutas.
Há muita gente generosa na net que, vez por outra, publica poemas meus em suas páginas…

CC: Qual a finalidade da poesia? É possível defini-la em uma única palavra?
Líria Porto: Poesia é olhar, defino-a com esta palavra – olhar.

CC: Como você definiria a sua Poesia?
Líria Porto: Tenho uma forma direta, simples, bem-humorada de ver a vida, de escrever, não sei o que isto significa.

CC: Você participou, ou participa de alguma oficina literária? Você acredita em oficinas literárias?
Líria Porto: Já participei de alguns grupos, porém acho que estou ficando velha – não tenho muita paciência para todas as discussões – algumas tão inócuas…

CC: Qual a palavra mais bonita da língua portuguesa?
Líria Porto: Há palavras lindas – orvalho, crepúsculo, desmaio… Sem falar que amo as proparoxítonas, dão-me a impressão de morrerem antes do tempo, antes que acabemos de pronunciá-las, o que as transforma numa força delicada, meio etérea, sei lá… pétala, trágica, fórmula, esquálida, mística…

CC: Se sua vida fosse um poema, que título teria?
Líria Porto: Hum, talvez… terra!

CC: Qual personagem da literatura que mais marcou você?
Líria Porto:
As mulheres de Érico Veríssimo – Olívia, Ana Terra, Bibiana; Diadorim, do Guimarães Rosa; Capitu, do Machado de Assis; Inácia Micaela e Catula, no lindo livro O Cheiro de Deus, do Roberto Drummond; Cândida Erêndida, do García Márquez…

CC: Dos poetas e escritores de hoje, quais são seus preferidos?
Líria Porto:
Quintana, Drummond, Adélia, Cora, Affonso Romano, Carpinejar…

CC: O que você está lendo no momento?
Líria Porto: Leio Inês da Minha Alma, da Isabel Allende e releio a obra de Adélia Prado.

CC: Hoje em dia todo mundo é "poeta"… Basta navegar um pouco pela internet para perceber isso. O que você acha disso? De cada 10 blogs, quantos, na sua opinião, são de Literatura?
Líria Porto: Pois é… E é também, acho, o motivo pelo qual ainda não publiquei meu primeiro livro – preciso estar segura de que não serei mais uma a abarrotar as prateleiras das livrarias com livros de qualidade sofrível…

CC: Já que estamos falando em internet e blogs, indique um blog para os leitores do Simplicíssimo e do Balaio de Letras.
Líria Porto: www.escritorassuicidas.com.br tem muita gente boa lá, literatura da melhor qualidade!

CC: Como anda o cenário literário aí nas Minas Gerais? Você mantém contato com escritores e poetas daí?
Líria Porto: Minas é uma fonte de bons escritores! Sou tímida, caseira, os contatos que tenho são na maioria feitos por e-mails – além do mais, não sou conhecida no meio literário…

CC: Você acha que existe uma “literatura mineira”?
Líria Porto: Acho, embora haja escritores mineiros como o Affonso Romano de Sant’Anna, cuja linguagem é universal.

CC: E uma “literatura feminina”?
Líria Porto: É… Não sei bem…

CC: Você acha que “a mão que governa o verso balança o mundo”? Explicação aos leitores: estes versos de Líria Porto aparecem logo na abertura de seu blog.
Líria Porto: Acredito nisto! A poesia é capaz de (co)mover o mundo, conduzi-lo a caminhos menos violentos, mais conscientes…

CC: Algum livro mudou sua maneira de ver e pensar o mundo? Você acredita que isso seja possível?
Líria Porto: Adolescente, li e reli uma antologia de poetas portugueses – meu pai era comerciante, em casa só havia os livros escolares, então eu fugia para a casa do vizinho para ler poesia – até hoje me lembro do “Melro” (Guerra Junqueiro), de alguns dos sonetos do Camões, do Bocage, de poemas do Fernando Pessoa… Foi aí que comecei a sentir o mundo – ao invés de tão somente habitá-lo…

CC: Qual o sentido de tudo isso?
Líria Porto: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”.

CC: E o papel da poesia?
Líria Porto: Essencial como o algodão que se coloca entre os cristais!

CC: E o Brasil?
Líria Porto: Amo o Brasil, acredito na minha pátria e no povo brasileiro!

CC: O que você gostaria de ter falado e que eu não perguntei?
Líria Porto: O hábito da leitura. É preciso cultivá-lo! Cuidar da escola desde o início, remunerar bem os professores – isso muda o rumo de uma nação!

CC: Líria Porto por Líria Porto.
Líria Porto: Pode parecer contraditório, mas sou a um só tempo brava e pacata – aquilo de dar um boi para não entrar na briga… (risos).


Entrevista concedida ao poeta, prosador e simplicolunista Cláudio B. Carlos (CC).
Visite o blog de Líria Porto: www.liriaporto.blogspot.com

Cláudio B. Carlos (CC)

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