Em sua obra-prima “Ilusões Perdidas”, Honoré de Balzac narra a trajetória controversa de Lucien Chardon, um jovem provinciano que, munido apenas de sua inteligência, dirige-se à capital francesa para conquistar riqueza e sucesso. Desde o início, em Angoulême, seu amigo tipógrafo David Séchard, sua mãe e sua irmã confiaram cegamente em seu talento, projetando todos seus desejos no sucesso do rapaz. Ao chegar à cidade-luz, abandonado pela senhora de Bargeton e pela aristocracia que antes o defendia, Lucien viu no jornalismo a oportunidade para se vingar dos seus novos inimigos e ascender na sociedade.
Graças a uma crítica teatral, Lucien conseguiu um bom contrato em um jornal liberal. Descobriu o repugnante segredo dos articulistas: ao redigirem, tomavam partido de quem melhor lhe conviesse; quase sempre, daquele que pagava mais. O mesmo livro que era elogiado, ressaltando-se os pontos positivos, podia ser no dia seguinte destruído; bastava mudar o ponto de vista, pincelar algumas teorias e idéias estrangeiras, mudando a assinatura no final. Lucien achou aquela novidade muito confusa, porém não hesitou em adotar o método, em busca de fama e fortuna. Passou então a ser temido e respeitado entre os que poucos antes o humilharam; contudo, ainda um estranho no ninho.
Permitiu-se luxos e conviveu com a nata da sociedade, deixando para trás seus amigos e seus princípios em nome de uma ambição desmedida e doentia. A inveja e o interesse eram os combustíveis daquela sociedade hipócrita, cuja lógica Lucien absorveu rapidamente. Enxergando novas oportunidades, mudou sua posição política e apoiou monarquistas. Quando a fama do protagonista incomodou os velhos caciques da imprensa, armaram ciladas para destruir a reputação do jovem.
No final, descobre-se só e triste, insatisfeito com tudo e com todos e sem um vintém para ajudar sua família. Na mesma velocidade com que obtivera todos seus sonhos, perdera a glória que lhe era prometida. “Quem era ele nesse mundo de ambições? Uma criança que corria atrás de prazeres e vaidades, sacrificando tudo a esse sonho” (p. 197).
“Ilusões Perdidas” compõe um cenário da vida parisiense do século XIX, mas não se trata de um simples romance de costumes: é uma lição de vida, que nos leva a refletir até quando vale a pena abrir mão de nossos princípios em prol das riquezas materiais.
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