Jake olhou-se no espelho do banheiro,olhou para o menino ao lado e finalmente tirou do bolso sua caixinha de balas. Comprara havia meses e só restava uma única bala lá dentro. Disfarçou a euforia flagrante em sua feição e ofereceu:
– Você quer? É de banana, mas é boa.
– Hum, não… Ah, quero sim. Nunca comi dessas, é bom experimentar coisas novas.
Jake prendeu a respiração por alguns instantes para que uma gargalhada não trovejasse de sua boca e acabasse por estragar seu intento. Logo depois, com um prazer sádico, soltou-a prazerosamente ao ver o menino cuspir o azul.
– Jake, seu sacana, essa bala amarga solta tinta. Quem me beijaria com a boca desse jeito?
Os dois riam juntos, sem parar. Aquela atitude bem humorada de Robert, era, para Jake, inédita, já que o pouco que conhecia a respeito do outro já bastava pra trazer-lhe não muito boas impressões.
Alguns no colégio deram falta de Jake e Robert, que haviam sumido durante todo o intervalo. Tudo se esclareceu quando os dois entraram na sala, quinze minutos atrasados. Todos conheciam as brincadeiras e sacanagens de Jake. Por isso, ninguém se surpreendeu com com a boca azulada e risonha que ambos traziam.
Talvez faltasse naquela classe uma alma penetrante e perceptiva ou todos estivessem absorvidos nos exercícios de matemática. O fato é que não houve um sequer que atentou para o azulado da boca de Jake: por mais maluco que ele fosse, não aplicaria o truque da bala em si mesmo.
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