Minhas amigas falam em sexo. Falam, falam, falam. Algumas fazem, outras apenas falam, como um bom bando de solteiras divertidas, tentando refrescar a memória e rir um bocado. Dizem que é como andar de bicicleta, não é? Acho engraçada a comparação, mas nada a ver…Eu sou muito ruim e descordenada para andar de bicicleta. Pois eu prefiro, ultimamente, falar em desejo. Dentro de mim, já posso sentir algo ardendo. Uma vontade. Sabia que, um dia, o desejo (re)surgiria. Algo queima, impulsiona como uma máquina a vapor, mesmo que sem rumo certo. Tem gente que chama de fogo o que, definitivamente, considero brega pra caramba. Ainda defendo e prefiro o desejo. Querer estar, ficar junto de, gostar. Acariciar levemente. O ego, o coração. O seu e o de outrem. A coragem aos poucos retorna até nos mais combalidos corpos dos soldados no pós-guerra, mesmo que lamentando tanto sangue, tanta dor, tanta morte. Coisas vãs e vis. O tempo é um santo remédio, que a tudo ameniza. E oxigena. E os novos ares primaveris, o calor que faz o corpo esquentar, salientando os odores de carne humana, são verdadeiros temperos. Sabores de frutas adocicadas e melosas, que lambuzam com prazer as bocas que não tem a quem beijar. Mas que desejam, sim, muito mais do que um selinho. Ah, as pequenas alegrias que só o sol traz! Fico imaginando os europeus, que, nas poucas semanas ensolaradas, se despem dos pudores e das vestes e tomam conta das praças, seminús, na hora do almoço. De cueca ou calcinha e sutiã, sobre uma toalha de mesa xadrez, com um pouco de queijo e vinho branco. A felicidade despojada. Pois mesmo aqui, nas intempéries malucas do paralelo 30, o calor anima o desejo. E me sinto assim nesta época do ano e, em especial, nesta semana. Apesar de ser um dos ETs que não foi para a praia no feriado (uhu!). Quero deixar a pele dourar, quero sentir as ondas de raios UVA e UVB, quero desmanchar como uma manteiga quando ver você passar. Altivo, lindo em sua esquisitice, metido a inteligente, só para mim. Mesmo sem te tocar, alimento a minha vontade. Mesmo sem você me notar direito, sinto o seu olhar. Mesmo sem você existir ainda, te procuro nas ruas, nos rostos, com a ajuda da benta luz do dia. Mesmo fazendo ficção com base na minha estúpida criatividade de mulherzinha a meio caminho dos 30 anos, te espero com muito desejo. Nunca gostei de desistir da minha felicidade. Nunca entrei no papel servil de Amélia, que dizem que era mulher de verdade. Nunca várias coisas. Mas, nunca, nunca, deixei de me transformar quando o sol invade a minha janela, ilumina minha estrada, torna minha cor dourada e meu desejo, ansioso.
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(Quéli Giuriatti, nem drogada nem prostituída, jornalista, 25 anos. Pessoa séria que não deve ser levada muito a sério. Gosta de rir, andar em bandos de amigos e amigas e escrever coisas. Principalmente, de gente e seus relacionamentos. Sobretudo, de amor.)
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