Simplicíssimo

Não-Convidado

A outra face não darei. Cansam-me os olhares, a multidão, os encontros e as despedidas. Palavras absurdas. Os olhos, o espelho, o nada. Uma canção consola e abandona outra vez. Os ponteiros se arrastam. A porta não abre. A luz não acende. O coração cala. O copo enche. A esperança? Cordeiro de Deus! A televisão grita, o jornal espalhado pelo chão. Na cama gigantesca, o cobertor ainda destila. Lágrimas no travesseiro. Um pulo, uma tentativa. Cozinha engordurada. Pizza gelada. A chave do carro. A brisa da madrugada nos cabelos. Tocos de cigarro. 70, 80, 90 km/hora. O mar. Odoiá, minha mãe! Vozes persistentes. Sufoco. Uma menina pára. 30 paus. Areia, sussurros, amor de mentira. Mentira? Mentira! Ainda te amo.

Ney Alexandre

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