A CELA
por Rogério Beier
Não me lembro como vim parar nesta prisão
Só sei que fui condenado sem julgamento,
A esta perpétua pena de sofrimento
Da qual não posso escapar são.
Longe de uma cela convencional,
Aqui não há grades ou grilhões,
Alas ou pavilhões.
Há apenas uma cama normal,
Sobre a qual cumpro minha pena capital
Cercado por máquinas de tortura,
Que me condenam a uma vida vegetal.
Cativo de meu próprio corpo,
Fui condenado à vida.
A passar meus dias como um corvo:
Espreitando a morte,
Tão desejada, mas proibida.
Não posso ouvir,
Não posso falar,
Sequer sou capaz de me movimentar
Dos meus sentidos, restou-me apenas a visão,
A aumentar a tortura dessa prisão.
Diariamente,
Tenho uma sonda a me regar,
Sou um hidropônico bem tratado
E consciente!
Gostaria de estar em outro estado:
Quiçá decomposto,
Putrefato!
Mas quem ouve o que conta os meus olhos?
Quem é capaz de entender, por trás deles,
Os sinais que desesperadamente envia?
Será que outra mentecapta ria?
Creio que não,
Pois os sinais vão todos assim,
Truncados.
E meus carcereiros,
Meros empregados,
Detém apenas as chaves da prisão.
Temendo por leis que atam suas mãos
E endurecem o coração.
Vivem distraídos, em suas cândidas vestimentas,
E nem percebem minha lágrima teimosa
Que implora por clemência!
Apenas se aproximam com suas ferramentas
Para cumprir sua cruel rotina de tortura
Manter a cela limpa e bem cuidada,
Para que a pena seja perpétua enquanto a cela dura.
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