Simplicíssimo

À Deriva

(…)A partir de hoje ninguém há de me entorpecer, eu sou minha sombra, eu sou minha sobra, e a súbita e interrupta praga fixada a resisti aos desejos, que me vencem fácil por apelos sensitivos, ao medo que termina quando choro, a felicidade que acaba quando entristeço, a saudade que me consome quando não amo. Sou o inimigo das minhas idéias e planos, a ilusória criança que acredita em sonhos, enquanto a bruta realidade solida me absorve com um enjoado sabor de pimenta, que me tenta, tirar dos olhos, lágrimas que me fazem acreditar e perceber que estou vivo e não sou besta. Para o que vulgo achar valer à pena e não é, poste-me a pensar que  acreditei em algo vil e leviano, decoro-me a estar fadado a novas crenças e arriscado a sofrer por futuros perdões de erros que não cometi e até de uma vida que não vivi, em poucas palavras, sinto-me como um navio a velas esquecido, jogado num meio de um oceano sem vento, perdido, a deriva de um perigo que não conheço (…)

 

Huebert Missano

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