Penso logo existo…
E quase que eu desisto dessa luta.
Por vezes me faltam armas
Por outras me faltam razões para lutar
Me tiraram o apêndice
Me deixaram as mágoas
Droga de médico que não percebeu minha doença…
Me cai o corpo inerte e dolorido na cama dura
Perdura na atmosfera a fumaça do meu cigarro
Tragado vorazmente pela minha boca
Droga de vício ainda me mata…
Observo as estrelas da sacada inexistente do meu apartamento
Uma parece brilha mais pra mim
Tolice, deve ser um avião
Aqui, aqui embaixo…
Gesticulo freneticamente
SOS SOS, mandem mantimentos
Meu vizinho me olha de canto…
Deve achar que perdi minha sanidade
Sanidade? Quem disse que a possuo?
Tolo vizinho… não conhece minha história…
Nem eu …
Lá se vai minha "estrela"…
E eu nem sequer soube se eram ets, homens verdes, ou um planeta novo no
sistema solar…
Mas também quem liga??
Ninguém liga!
Não dá pra gastar telefone assim do nada, as tarifas estão pela hora da
morte!
Ah solidão…
Sinto falta da minha família…
De quando ela não era somente a TV e eu…
De quando meus pais eram super heróis, imaculados em seu pedestal construído
por mim..
Ah essa melancolia persistente,
O vento batendo na minha cara,
Enquanto caminho calçada abaixo de olhos quase fechados sentindo a brisa
fria,
E a garoa mais fria ainda…
Tênue sentimento em meu peito acaricia minha alma,
Percorre meus pensamentos turbulentos…
Observo o rosto das pessoas que passam que passam por mim pelas ruas…
Algumas falam alto perturbando meus pensamentos, outras são de um silêncio
tão profundo, tão denso que me corroem a alma …
Ah esse fim de inverno, a expectativa da primavera…
Já regozijam os pássaros em meus ouvidos, já posso sentir as flores
preparando-se para o desabroche…
Lá vou eu… ser imundo poluindo a paisagem com meu cigarro, poluindo o
mundo com meus desalentos…
Mais alguns passos e lá estou eu: menina desprotegida, pés descalços pela
grama verde, vestido florido revoando ao vento, o perfume da primavera, o
sol brilhando, o vento bagunçando meus cabelos …
Me vejo na tua menina, pupila do teu olhar, vão-se as mágoas, vão-se as
lágrimas, as tristezas… tudo se dissipa no ar que tu respiras..
Em teus braços volto para meu ninho, para o útero de minha progenitora, para
o âmago do meu ser…
Em teus braços sou apenas menina. Livre de vícios, de todos os
males…completamente sem dor …
Deito em ti e meu ser se acalma, no singelo toque da tua pele a minha,
enquanto tua respiração forte embala meu sono, eu durmo flutuando na
imensidão.
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