Simplicíssimo

Poeta Mineral

(ODE A JOÃO CABRAL DE MELO NETO)

Vicejara da sáfara, da pedra

Um girassol que se esconde

No túmulo do empedernido.

Odeia o transbordamento da cálida água:

Acha-a frívola;

Prefere a rasteira tapeçaria, o afagar

Da mão do cimento e a metálica alvenaria do parco gesto do engendro.

Pinta a grandeza da secura:

Exaltando a plasticidade que a molda;

O aquoso, mádido, translúcido e gélido fogo

Que flui na corrente sanguínea

Das estóicas coisas ou pessoas hialinas.

A poética da observação obsessiva,

Para ele,

É plena da mais sábia epifania:

Ela fica postada

No píncaro maior

Da visão cristalina, acuidosa, concisa, plástica, vítrea!

Não,

Ele não é exangue oceania.

Não,

Ele não é apenas a pétrea açucena que rebenta altiva.

Não,

Ele não é tão-só o penedo, o ferino espelho, o Cerrado,

A Caatinga, o Sertão sem lua nem estrelas, a acrimoniosa SINFONIA.

Não mesmo, meus queridos amigos.

Na verdade,

Embora ele, quando vivo, veementemente refutasse,

O líquido poeta degusta sim o lirismo:

O lirismo presente na contemplação sóbria,

Onde os indistintos matizes do invisível se realçam;

O lirismo contido na profundidade que aflora

Da imagem da viril leveza do andaluzo toureiro

Ou da acre imponência da pernambucana e betúmica cabra;

O lirismo que se denota na narrativa da fluência de um rio

Ou que se ressuma na fluidez da serena revolta

Ora dum povo severino, ora duma gente maganês,

Que ama, apesar da dureza da navalha,

Deverasmente a sua lavra.

Ah, mais do que nunca eu acredito

Que o árido bardo, compositor da ode ao sol albino,

É, de fato,

Um radioso e magnífico

Poeta lírico!

Jessé Barbosa de Oliveira

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