Eliseu era um sujeito calmo.Nunca falava alto, nunca ria alto, nunca expressava qualquer tipo de emoção.Na escola não se destacara dentre os demais por número de amigos, de namoradas e nem mesmo pelas notas; não tirava notas ruins não, eram notas médias e médio tem o mesmo radical de mediano…de medíocre.Na vida adulta não mudou muito. Não tinha peculiaridades que lhe tornassem mais ou menos interessante.Era lamentavelmente comum, abstraindo-se a malévola hipocondria, que ocupava-o por inteiro, com visitas periódicas ao médico.As vitaminas, fortificantes,aspirinas e xaropes enchiam todas as gavetas possíveis naquela casa.Algumas mulheres até gostavam dele.Era o melhor amigo de muitas mas não era o namorado, amante de nenhuma.Uma vez ele ficou tão próximo de uma colega de trabalho que chegou a dividir metade de uma pizza fria com ela.Ela era a própria Gabriela Cravo e Canela, pensava Eliseu.Ele era louco pela Gabriela e por conseguinte louco por Vânia.Ela brigara com o namorado e estava melancólica, com uma blusa branca caindo pelos ombros delicados; Ele sentia vontade de chamá-la de "minha cabritinha", tão indefesa, tão só…era uma mulher doce e ótima companhia; eles entenderiam um ao outro, rejeitados curando as feridas abertas mutuamente.Não resistiu, pediu-a em casamento, diante do não tentou argumentar, afinal de contas ela já havia dito que gostava dele, poderia já ter se esquecido?
_Eliseu meu querido, é claro que não esqueci.Eu te adoro, do mesmo jeito que adoro Coca Light e nem por isso me caso com uma…
Levou algum tempo para Eliseu reerguer-se após tão doloroso golpe, mas ele conseguiu, diria mais: "O que não nos mata, nos torna mais fortes" e Eliseu havia se recuperado, agora, deitado em sua cama de lençóis mais que limpos, puros, esticava-se na cama pensando no novo homem que seria.Levantou-se preguiçosamente, tomou banho com a porta do banheiro aberta, e saiu sem olhar os avisos de meteorologia.Pensou em pelo menos levar um guarda-chuva, mas desistiu, era um novo homem e sairia corajosamente, sem previsão de tempo, sem guarda-chuva e sem tomar uma vitamina, umazinha que fosse, nem mesmo um efervecente de vitamina C .
Não foi para o trabalho, estava cansado do trabalho.Lembrou de Vânia, a víbora venenosa, e decidiu que encontraria a sua nova amada no exato dia em que se tornara um novo homem.Subiu no lotação vazio, fitava pela janela o belo parque da Redenção.O sol iluminava as árvores escorrendo lentamente pelos galhos.Admirava esta imagem "tri" porto alegrense, emoldurada pela janela do lotação quando uma mulher fez sinal para subier.Não era qualquer mulher, mas uma mulher de pele bronzeada, cabelos crespos e negros até a cintura bem marcada por um vestido vermelho.Não iria lhe favorecer em nada permanecer atônito por aquela presença, era preciso que dissesse algo, que fizesse algo para que ela ao menos olhasse-o uma vez senão, senão….AAAAAAAAAAAATTTTCHIMMMMMMMM!!!Não conseguiu conter-se…espirrou sonora e desastradamente lambuzando os dedos, a palma da mão e a ponta do sapato com alguns respingos.Perdera a chance de conquistar a mulher que tinha tudo para ser a mulher da sua vida: a cara e o corpo da Sônia Braga, além do vestido vermelho que esvoaçava sensualidade no balanço suave daqueles quadris.Começava a amaldiçoar-se por não ter tomado pelo menos a tal vitamina C, quando aqueles olhos de pantera derramaram-se languidamente sobre os seus olhos e a boca vermelha e molhada entreabriu-se num sorriso malicioso deixando escapulir uma doçura na voz que lhe perguntava quase em suspiros:
_Posso me sentar ao teu lado?
_Sim, é claro!-respondeu-lhe de forma seca, formal.Queria dizer-lhe qualquer coisa, mas não conseguia pensar em absolutamente nada, apenas olhava de canto os movimentos dos seios, indo e vindo em direção ao decote do vestido no movimento compassado de sua respiração.Arriscou:
:_Espero que não tu não te sinta ofendidaa, mas não me perdoaria se não dissesse:Vem comigo, me deixa te amar, te satisfazer e te adorar, por uma tarde ou por toda a vida, essa decisão será tua.
Rá!!!Aposto que ela nunca havia escutado um convite tão direto, sem rodeios, coisa de homem confiante, culhudo mesmo… Mas só quem ouviu foi seu coração, pois a voz não lhe saiu enquanto movia os lábios, ela o olhou e pensou te-lo visto s balbuciar qualquer coisa mas julgou ser apenas impressão sua, ou talvez ele estivesse rezando.
Oras, o que ele estava esperando?!Ela provavelmente lhe cobriria de bolsadas ali mesmo.Grande idiota! Que idéia, achar que uma mulher daquelas iria querer alguma coisa com ele, só podia estar louco…Lógico que estava louco, louco e alérgico , fraco também…devia ter ao menos tomado uma vitamina c antes de sair…é isso o que resta, voltar para casa e tomas as vitaminas.E ligar para o trabalho, o quanto antes melhor.Mataria um tio, um tio-avô ou talvez o tio e o avô, mas não perderia seu emprego.Sua vida agora dependia disso e aquela mulher que ficasse andando pelo mundo, espalhando seu perfume atordoante, afinal de contas aquilo até lhe fazia mal…era alérgico e isso a tornava a mulher errada.Tropeçando e cambaleando entre esses pensamentos levantou-se bruscamente. Não sentiu a canela macia que roçava na sua perna.Saiu quase correndo para descer naquela parada, desceu e nem olhou para trás.
A mulher ficou pasma e sentiu o rosto afoguear-se de vergonha…que vergonha…pensou que ele estivesse gostando, era impossível um homem daquele tipo lhe rejeitar, mas rejeitou.
Agora ela permanecia no banco com o olhar perdido nas ruas.Frustrada concluiu:
-Que idéia…vou é pra casa, tomar um banho e tirar esse vestido…isso só dá certo em filme, mesmo!!
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