No princípio do mês de outubro foi veiculada em toda mídia a notícia de que um fabuloso tesouro asteca foi encontrado por uma expedição chilena na Ilha Robinson Crusoe, a 700 Km de Valparaíso, no Chile. O tesouro, de 97 toneladas de ouro e barris de pedras preciosas, tem seu valor atual estimado entre 10 e 100 bilhões de dólares e, confirmada sua descoberta, é, indubitavelmente, o maior tesouro já encontrado em toda a história.
De acordo com a lenda, este tesouro teria sido roubado por piratas espanhóis no ano de 1714 que, em seguida, teriam escolhido a Ilha de Robinson Crusoe para enterrar toda essa fortuna. Alguns anos mais tarde, em 1756, um lorde inglês de nome Cornellius Webb foi mandado por um patrocinador inglês a ilha de Robinson Crusoe para recuperar esse tesouro que já havia sido dado como perdido. Mr. Webb conseguiu recuperar o tesouro, porém, logo no início de sua viagem de regresso, teve o mastro de seu navio quebrado, o que o obrigou regressar à Ilha, reenterrar o tesouro até consertar o barco. Mas logo após consertar o navio, enfrentou um motim de seus marujos. O capitão, então sem muitas alternativas, ordenou o afundamento de seu próprio barco e fugiu para Valparaíso, deixando o tesouro enterrado na ilha. Pouco antes de morrer, Cornellius enviou uma carta a seu patrocinador contando tudo o que havia sucedido e deixou indicações de onde ele teria enterrado um mapa com a localização exata do tesouro.
Muito além do que parecer apenas literatura barata ou enredo de filmes de Hollywood, toda essa estória comprova ainda mais o quanto a nossa América Latina foi roubada e vilipendiada pelos invasores europeus. O leitor menos atento pode não ter percebido, mas a notícia acima nos dá uma vaga idéia das enormes quantidades de riquezas das quais nossas terras e ancestrais foram roubados. Este, que está sendo considerado o maior tesouro já encontrado em todos os tempos, foi apenas um dos inúmeros carregamentos de ouro, prata e pedras preciosas que saíram da América rumo à Europa. Seguramente, centenas, quiçá milhares de outros navios singraram o Atlântico com seus porões abarrotados de nossas riquezas. Riquezas que serviram não só para entupir ainda mais os cofres dos reis europeus, mas também, para bancar todas as aventuras dos descobrimentos, armadas invencíveis e, porque não dizer, o desenvolvimento comercial e tecnológico de toda a Europa. Quem poderia negar que as revoluções mercantil e industrial não foram financiadas por nossos metais preciosos que inundaram a Europa?
Ao deparar-me com essa notícia, foi inevitável não lembrar de um discurso atribuído a um chefe indígena chamado Guaicaipuro Cualtémoc, o qual teria sido proferido em uma reunião de chefes de estado da Comunidade Européia a fim de esclarecer quem são os credores de uma dívida entre Europa e América.
De acordo com o discurso do sábio índio, se formos contabilizar o peso, apenas em ouro e prata, do que foi roubado em tão somente 1 século e meio de exploração européia (1503/1660), chegaríamos a um número próximo à 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata. Considerando apenas esses valores, sem levar em conta, por exemplo, o carregamento do navio acima e muitos outros ocorridos após o século XVII, e sendo generosos o suficiente, a ponto de relevar o roubo declarado dos Europeus, considerando apenas que tais subtrações teriam sido empréstimos amigáveis que teríamos cedido àquelas nações, chegaríamos à conclusão de que essa dívida seria simplesmente impagável. Impagável pois, apenas à caráter de exemplo, se fôssemos exigir o pagamento desses valores em metal, tal qual nos foi subtraído, e corrigidos a juros de tão somente 10% sobre os 400 anos de exploração, o valor devido pelos europeus seria maior do que o peso do Planeta Terra. E isso, porque estamos contabilizando o valor da dívida apenas em metal, isto é, não estamos contabilizando o sangue de nossos irmãos que foi derramado pela cobiça cega do invasor europeu.
Se de um lado não há como cobrar esta dívida dos europeus, pois estes, além de não a reconhecerem, são totalmente incapazes de pagá-la. Do outro lado, vemos países latino americanos como o Brasil, se esforçado tremendamente para honrar seus compromissos chegando a pagar, em um único ano, 40 bilhões de dólares a título de juros e amortização de uma dívida contraída nos últimos 100 anos. Olhando por este ângulo, será justo que continuemos pagando essa dívida mesmo após todo roubo e assassínio pelo qual passamos? Não seria este o exato momento de a América exigir a reparação pelo roubo de suas riquezas? Essas perguntas deveriam calar fundo no coração de cada americano e faze-lo refletir sobre a possibilidade de buscar uma solução para minimizar a perda dessas riquezas tão brutalmente extraídas de nossa terra e nosso povo. E uma solução rápida para iniciar a reversão dessa situação seria declarar a moratória da dívida externa. Isso mesmo, vamos encampar uma campanha de moratória já. Obviamente, o valor pago estaria longe de nos ressarcir tudo o que nos foi tirado, porém este dinheiro deixaria de ser pago aos grandes banqueiros e poderia ser revertido em projetos sociais, educação, reforma agrária ou outros projetos que auxiliariam uma melhor distribuição de renda em nosso continente tão sofrido. Um sonho louco e utópico, você poderia pensar. É verdade, realmente se trata de um sonho louco e utópico o qual convido todos a participar, pois ainda é um sonho que estou sonhando só. Espero que mais pessoas comprem este sonho, pois como já dizia o maluco beleza, “Sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só. Mas sonho que se sonha junto é realidade”.
Leia o discurso integral do chefe indígena Guaicaipuro Cualtemoc.
Ouça o discurso do índio Guaicaipuro Cualtemóc interpretado por Antônio Abujamra.
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