Simplicíssimo

Ainda bem que sou apenas um rapaz latino americano

 Que graça teria ver o Big Ben, a London Eye, o British Museum e tantas outras coisas mais se eu fosse inglês? Será que meus olhos encantar-se-iam ao se depararem com o Queen Mary’s Garden, no Regents Park? E que valor teria uma morena (ou loura, ou ruiva, ou…) alta (ou baixa), magra e de olhos azuis (ou verdes) se eu as tivesse abundantemente disponíveis para, no mínimo, um deleite de olhar?

Se eu fosse inglês, o relojão ali do Parlamento serviria apenas para me dizer a hora do chá e todos os olhos de todas as minhas mulheres seriam friamente azuis. Da mesma forma, todo o meu mundo seria visto sob essa óptica. Por isso eu beberia a valer, como os ingleses bebem (mais do que os brasileiros, podem crer!).

Pior ainda seria se eu fosse do leste europeu. Dependendo do meu país de origem, eu teria os mesmos direitos trabalhistas dos ingleses. Seria até mesmo parecido com eles. Poderia pegar um avião na sexta-feira à noite e, em poucas horas, estar com minha família para o jantar. Mas nada mudaria a minha origem pobre e sofrida. Mesmo sendo branco (se eu fosse do leste europeu acharia que os brancos são realmente uma raça superior), eu ainda teria que trabalhar como um estúpido e ganhar menos até do que os sul-americanos. Acharia também que os ingleses são as pessoas mais importantes do mundo tão e somente porque são mais ricos do que eu.

Ainda bem que eu venho de um país tropical.

Henrique Andrade Camargo

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