Vivemos uma síndrome de denuncismo. Em todo lugar apontam letras, câmaras e microfones. São tantas as irregularidades, desmandos, desvios e descasos que na pauta somente entram as mais escandalosas. Como aqui as coisas levam tempo para se resolver, cria-se uma situação onde a própria denúncia é esvaziada de seu frescor, solapada pela vigarice mais recente. Instrumentos legítimos são utilizados para a metaexposição de tantas irregularidades que perdem sua aura de seriedade. Quem sabe, estamos cansados de tentar descobrir se o poço tem fundo.
O que gela a espinha é a hipótese de nossas endemias terem atingido um grau tão diáfano de sofisticação, que na iminência de qualquer flagrante, será melhor efetuar a denúncia. Assim, para o meliante matam-se dois toelhos: não há mais risco de ser chantageado e perder muito dinheiro e, com a ressaca no mar bravo das mazelas semanais, logo o caso será esquecido e superado pelo andar da fila. Além do mais, o trâmite agora será o da justiça e, se o dito cujo for bem administrado nas variadas brechas da lei e da criatividade brasileira, significará uma senhora enormidade de tempo. Entrementes, a vida continua. Vamos tocando.
Assim, neste fluxo contínuo, o que catalogamos diariamente são apenas os alertas. Repentes midiáticos, por um lado ajudam a organizar, em nossa mente, a emersão da bandalheira ou da novidade. Sendo que, por outro, nos remete a uma seletividade grotesca, onde o resultado é a apatia e omissão. Isto, porque, com estes movimentos opinativos contraditórios, a todo volume nos veículos de comunicação, acabamos formando medleys: misturas onde nada se destaca ao fundo. Sabemos tudo, mas não lembramos nada. Dói a impotência e por isso se diz que não se tem nada com isso, nem os bispos. Na pátria amada, el condor pasa e reclamar não leva a nada!
Dada a impossibilidade da réplica eficaz, ou da inutilidade da interação seja pelo correio, cartório ou via on-line, acabamos inserindo esta torrente de “informação” – boa, inútil ou ruim -, como parte de um “processo” e relegando, finalmente tudo à caixa de spam. Os estímulos valem no máximo um comentário e as indignações são tão perecíveis, quanto pífias nossas reações. Anestesiados, não mais reagimos se for alta a taxa de repetição. Alguém sabe o endereço do ombudsman?
O marketing cunhou a pérola: Realidade é igual à percepção. Querendo dizer que o impacto é que importa na campanha. Na vida real, acertou no que não viu. Portanto, nada é real, se não é conosco ou não percebemos. Lembra o papo dos céticos sobre se a cadeira continua na sala se sairmos dela… Assim, misturamos alhos com bugalhos e nos alheamos de tudo, mesmo sem saber. Afinal, em sociedade é preciso não “destoar” da multidão de contemporizadores.
Em todos os sentidos, acabamos desmotivados por nossas próprias reflexões, talvez ruminando aquela sensação antiga de que “as coisas nunca vão mudar” e adoçando o paladar com adoçante. Neste ponto é que geralmente encerramos o café peão com um acento papai sabe tudo afirmando: a vida é assim! Bola prá frente. Alguém precisa pagar o supermercado.
Perspectivamente, este monday morning feeling que aqui nos trópicos dura toda a semana, seja explicável, pela engenharia da máquina. Mas, deve ser superado ou murcharemos. Pequenos passos de gigante é que poderão nos tirar da má situação. A constância na ação é que produz o resultado desejado e, somente assim, as coisas mudam! Sucesso é fazer a mesma coisa mil vezes, da maneira certa. Toda transação deve ser justa.
Outra coisa a evitar é que a cegueira causada por discursos do tipo "temos que dar nossa cota de sacrifício para a rentabilidade da empresa ou para o progresso do país", que condicionando a felicidade à fusão alienígena do sujeito no objeto, aliena completamente os caraíbas. Depois vem
Aí eu pergunto: os straight tragets nos fazem render tanto assim? Quero dizer: Na velocidade das mudanças, com tanta demanda cognitiva e afeto-sensorial sendo exigida, como evitar que sua essência sublime ao vento, desaparecendo aos poucos? Melhor viver dez anos a mil? Se for assim há pouco espaço para manobras. Atravessar os pântanos do mercado e aterrissar nos resultados é uma tarefa arriscada. Pela lei do core business, os míopes perdem tudo na conquista das coleções de Mbas. Entenda bem: Você só dança se errar o árvaro! Epsílones com PhD.
E o resto? O mundo e as pessoas: Que mundo? Que pessoas? Se eu não percebo sua dor ou necessidade, a lógica disjuntiva diz que, ou você não existe ou não está sofrendo. Além disso, os modelos funcionam e as estatísticas são confiáveis. Alguém vai querer contrariar a razão? Então é isso: Vamos em frente que atrás vem gente, afinal: Nós que aqui estamos por vós esperamos!
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Luís Sérgio Lico é Filósofo e Consultor. Desenvolve Treinamentos e Palestras
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