Gostava de escrever os pensamentos diários em forma de poesias, não gostava da palavra “poesia”, achava que “poema” cabia melhor, naquelas coisas que ficavam entre um amontoado de frases sem rimas, invariavelmente com duplo sentido, e um lirismo decadente.
Escrevia assim, jogando palavras no papel branco repetindo o velho clichê, “papel branco aceita tudo”, coisa que realmente acontecia, e via-se ali, feito papel branco em um bloco infindo de folhas, prontas pra serem maculadas, descartadas ou não, sempre haveria mais uma folha pra ser usada, branca, limpa e virginal, não fosse o tempo, que teimava em amarelecer a lombada do tal bloco.
Pensava e escrevia, melhor dizendo, pensava e descrevia as situações e sensações como se estivesse o fazendo para alguém entender o que apenas seus olhos viam.
Vivia dizendo que desacreditava da humanidade que não colaborava nunca em mudar e fazia do mundo um lugar quase inabitável, totalmente, caso houvesse tido coragem de dar cabo à própria vida.
Vivia assim, entre esperanças de atos alheios e eternos e infrutíferos atos próprios que não eram entendidos e assim p afastavam mais e mais daquilo que seria uma vida em sociedade.
Preferiria a vida em saciedade de sentidos, mas esbarrava nos entraves que o medo impunha ao lado de uma vergonha maior que a vontade em si.
Se era agora matéria, corpo, massa, alma presa, ficava às voltas entre a duvida do que pode um corpo que pede, que lhe tolhia mais e mais atos.
Queria apenas poder viver sem satisfações dadas pra ter que justificar desejos, sentimentos e suas verdades.
Queria apenas poder viver e voar sentir, cheiros.
Queria apenas abraçar, conversar ou dormir se tivesse sono, numa naturalidade perdida tão naturalmente quando se cresce.
Queria tanto e tinha tanto disso que não mais se reconhecia quando se via no espelho
Onde mais se assemelhava à um bloco
Branco
De papel.
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