Por auto-eleição e acolhimento posterior do nobre editor do Simplicíssimo, sento, a partir de hoje, no trono de ressentidos que é o lugar de um ombudsman. Deve ter sido invenção do jornalismo americano, sei lá, e, querem saber, tenho preguiça de investigar/construir uma genealogia da figura. O ombudsman, dizem os manuais de jornalismo, deve ser uma espécie de advogado do leitor. Ele é eleito ou escolhido e tem estabilidade no cargo, ou seja, não pode ser demitido por um tempo de mandato pré-determinado (um ou dois anos, por exemplo). Semanalmente tem seu espaço garantido para escrever o que bem entender sobre as matérias, editoriais, escolhas de pauta, posturas do veículo. Normalmente é “ajudado” por leitores indignados ou espertos, desocupados ou ufanistas, que crêem estar colaborando para um jornalismo mais “democrático”. O ombudsman é, no fim das contas, a fina-flor da liberal-democracia jornalística. A doença da grande mídia, contudo, é muito mais pustulosa do que pode parecer, e querer dar conta de suas profundas estruturas gangrenosas com um ombudsman é como acreditar que uma passeata com bandeiras brancas e bons sentimentos pudessem barrar a insânia do massacre ao povo do Iraque a ser cometido pelo eixo paranóico-militar-petrolífero-neoconservador estadudinense. Por isso, a presença do ombudsman se limita a dar uma aparência de maior legitimidade e transparência para o veículo que o contrata; como cantava Lobão, é tudo pose … Há algo engraçado com relação a isso: alguns jornais ,como o gaúcho zerohora por exemplo, são tão escancaradamente antidemocráticos e vinculados a setores políticos e econômicos determinados, que nem mesmo o simulacro de um ombudsman conseguem criar e suportar, seria muito risco, mesmo com um cenário cuidadosamente preparado, tal é o nível da manipulação.
Mas porque todo esse lero-lero? Só para avisar que este que vos escreve pretende ser um anti-ombudsman ou, quem sabe, um ombudsman pigmeu-moral, um ombudsman que admite o alto grau de narcisismo de seus (não)colegas de imprensa, que sabe que não querem defender democracia coisa nenhuma, muito menos leitores ou algo como a lisura jornalística. Os verdadeiros ombudsmen, se existissem, nunca seriam contratados, e a verdadeira democracia, se existisse, prescindiria deles. Além disso, o Simplicíssimo já é escrito por seus próprios leitores, ou seja, não é um veículo de comunicação tradicional. Está mais para uma rede-livre, rede-quente, um pequeno turbilhão de palavras ansiosas por afetar, cantar, dançar, beijar. Então este ombudsman-pigmeu não será mais que o seu chato de plantão, que se permitirá dizer o que bem entende, como quem distribui flores para estranhos ou cospe de sua sacada na cuca dos desavisados … Tudo pela diversão!
É claro que na medida em que escrevo pretendo ser lido, por isso, às favas com o papinho de uma amiga minha: “me visto assim para mim mesma, porque gosto, para me sentir bonita e não para os outros”. Pipocas !! As pessoas se vestem para os outros, para alguns outros, para serem olhadas, admiradas, desejadas, devoradas (e isso também vale ao avesso). Eu também; tenho carência de que me leiam e gostem e queiram ler novamente, mas também careço de desconforto, irritação, discordância , quem sabe ódio! Odeiem-me! Por favor, detestem-me! E depois me mandem beijocas.
Então, a partir da próxima edição farei minhas intervenções sem compromisso. Direi o que quiser sobre o que bem entender do que foi publicado no Simplicíssimo (ou não) e aceitarei o que vier de volta. Viverei o quanto Deus ou o editor ou os leitores-assinantes-autores deixarem e isso já terá bastado. E no fim das contas, como diria o velho Nietzsche, só resta a ALEGRIA porque esta quer eternidade, quer profunda eternidade.
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