A epidemia, a doença, ou seja lá como no futuro as pessoas preferirem se referir ao que aconteceu, começou em 14 de janeiro de 2007. Eu me lembro perfeitamente porque era meu aniversário. Trinta anos.
Depois daquele dia, não houve mais aniversários, feriados ou comemorações; nem para mim, nem para ninguém mais.
Meu nome é Marcos Lemos Dantas. Tenho 32 anos, e alguns meses. E em breve estarei morto. Os filhos-da-puta já estão batendo na porta de madeira e minha atual honestidade me impede de acreditar que esse pedaço de pau conseguirá segurá-los por muito mais tempo.
Estou ditando essas palavras em um pequeno gravador da Panasonic. Eu o mantive comigo nesses últimos dois anos, apesar das reclamações da minha família. Minha família… Todos estão mortos agora.
Este é um registro para o futuro, quando as pessoas forem tão estúpidas a ponto de dizer que o que aconteceu foi apenas um mal-entendido. Sei que eles são covardes e vão dizer que tudo não passou de uma piada sem graça.
Este é um registro para o futuro. Se houver um.
A praga começou em 14 de janeiro, ainda durante o verão. Como todas as grandes transformações, ela aconteceu aos poucos, mas de uma forma brusca.
Na verdade, a mudança já estava lá, prenha de horror e morte, naquela manhã ensolarada. Mas ainda não conseguíamos ver. Em algumas horas, tudo mudaria, para sempre. Em algumas horas, tudo seria diferente, não importando se ficássemos escondidos ou se fôssemos para uma ilha deserta.
Os mortos voltaram. E os mortos se recusavam a ficar mortos.
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