Quando meu amigo Teófilo me chamou para ir ao cinema, aceitei sem pensar, pois sair com a turma é sempre divertido. Ao chegar lá, porém, perguntei: qual é mesmo o filme que a gente vai assistir?
Ele disse: Filhos da Esperança. Não conhecia o filme, só tinha ouvido falar brevemente sobre e ainda assim não recordei o assunto, mas concordei em assisti-lo. Compramos o ingresso e, após comprarmos nossos “mantimentos”, entramos na sala quase vazia.
Não me arrependi. O filme é um dos mais inteligentes lançados ultimamente, em que apesar dos momentos críticos que vivemos, a “empresa Hollywoodiana” insiste em nos impor histórias sem qualquer informação realmente válida e reflexiva.
O elenco é primoroso, composto por nomes como Clive Owen, Julianne Moore, Michael Caine e Chiwetel Ejiofor. Não reconhece os nomes? Se você der uma pausa aqui e procura-los no Google, descobrirá que estão provavelmente em um de seus filmes favoritos, nem que seja fazendo uma ponta. O diretor Alfonso Cuarón soube valoriza-los, utilizando ao máximo sua capacidade de interpretação, e o modo como foi filmado torna o enredo ainda mais fascinante.
Não vou contar aqui um resumo da história, pois isso você encontrará em diversos outros sites, caso esteja interessado. Vou tentar descrever a cena mais emocionante, mais importante que eu considerei.
Na cena, o personagem principal, Theolonius, ajuda a jovem mãe (a primeira em 18 anos de infertilidade da humanidade) a descer as escadas do prédio onde “o inimigo” a deixara antes de morrer. A Inglaterra está em guerra civil, e ouve-se barulho de balas furando as paredes de concreto a toda hora. Ele a suporta com seu bebê e começa a descer as escadas, enquanto militares sobem com seus rifles e comunicadores. Ao verem a criança chorando, porém, o comandante ordena o cessar-fogo e todos se demonstram indescritivelmente surpresos. Passam por toda a tropa, saem do prédio, e as portas dos tanques abrem-se para mostrar mais soldados atônitos com a situação. A expressão em seus rostos exprime simultaneamente surpresa e esperança, esperança de um mundo melhor.
Leu o parágrafo anterior? Leia de novo. E mais uma vez. Agora assista à cena, de preferência o filme todo. Verá que minha descrição está um lixo perto do que ela significa dentro do contexto. Sua duração é de menos de um minuto, mas é a mais forte de todas que já vi em minha vida, suponho. É perfeita. Cuarón deveria receber um Oscar por ela, no mínimo, aliás, um Nobel da Paz. Merecido.
A primeira coisa que pensei ao acabar o filme: escrever esta crítica e publicá-la no Simplicíssimo. Tenho certeza que, nessa reunião de pessoas tão inteligentes como sei que o são, os que lessem meu texto iriam se interessar. Passamos, eu e meus colegas, quase uma hora discutindo a arte que encontramos naquela sessão quase vazia do Multiplex Recife. Uma hora de comentários ininterruptos, metade do tempo apenas para tentar descrever com sucesso a cena de que aqui falei.
Será que em 2027 estaremos de acordo com o que é mostrado na película?
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