A janela velha de madeira sem pintura, o céu amarelo de fim de tarde e sua serena lucidez que acalma e desperta pensamentos eram cenários diários. E a menina, mais uma vez envolta nos seus, tão misteriosos, tinha uma face diferente e um olhar paralisado enquanto adentrava uma brisa fria que balançava seus cabelos. O por do sol visto daquela janela era diferente, porque um monte de pernas se confundia lá embaixo, e ali de sua sacada, ela ficava a imaginar de onde todas aquelas pessoas estão vindo ou para onde estão indo. Alguns voltando do trabalho, outros passeando com seus cachorrinhos, e outros, simplesmente olhando o rio. Talvez fosse uma forma de não se sentir só. Mas ela ainda assim se sentia. E às vezes gostava disso. Ela e seus livros. E suas musicas. E seus sonhos. E seus fantasmas que sempre apareciam para conversar. E as lágrimas que escorriam silenciosamente, sem saber de onde vinham, porque eram apenas lágrimas e ela nunca descobrira o sentido delas. Mas sempre apareciam e ela já não procurava mais explicações para as coisas, destinara muito tempo a pensar nisso, e no fim descobrira que nem sempre é possível entender os fatos. Na maioria das vezes entender não era preciso. Porque mesmo rodeados de pessoas, todos temos uma solidão própria que nos limita a nossos pequenos e grandes mundos. Ela era apenas mais uma que alternava entre sonhos, filosofia e a realidade dura.
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