Aquelas linhas que lia, relia e encontrava a cada vislumbrada uma esperança, uma janela para o meu estado de espírito momentâneo traduzir, acabaram. Transformaram-na em jogo de adivinhação, mas não enigma. Passou a ser apenas uma descrição de algo perfeitamente identificado, mas nunca mencionado.
Não entendo como puderam realizar tal barbárie. Até compreendo porquê. Após muitos autores virem a público repudiar as análises interpretativas de suas crônicas e poesias, os mestres nas letras, que por vezes não sabem organizá-las com um mínimo de arte, tiveram que rever suas teses e artigos para obter um índice maior de acertividade. Que melhor maneira do que criar uma geração de bitolados, verdadeiros cavalos puxadores de carroça, daqueles que usam tapa-olhos para não enxergarem nada, além da linha reta que lhes é permitido vislumbrar.
Quero crer que isso não seja de propósito. Apenas um lapso de memória poderia segregar uma cultura a um único pensamento ou uma única e arquitetada escultura. O pior é que alguns cultuadores da adivinhação já tornaram-se juízes e executores no julgamento e morte da poesia. Esta, por sua vez, só lhes pede uma oportunidade de viver sua vida, seja entre os nobres, cercada de luxo e riqueza; seja entre os pobres, escondida entre escombros, vivendo de migalhas.
100 anos de Mário Quintana…
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