Simplicíssimo

sem posse nem destino

“…uma relação entre um casal pressupõe, acima de tudo, a existência de amor, a vivência desse amor, a fortificação desse amar, dessa forma de estar, de se ser e de se darem um ao outro… este facto, esta necessidade, não "obriga" que esse amor ou essa forma de amar "deva" durar para toda uma vida em comum, ou seja, o amor sendo universal e devendo nós amar tudo e todos duma forma incondicional, não "obriga" a que o amor "resista" a um desgaste dentro da relação de um casal… quando nos "casamos" não o fazemos para toda a vida (como catolicamente nos "obrigam"…) mas sim porque gostamos um do outro daquela forma e naquele momento… e aqui é que tudo se pode alterar, é que aquela forma pode mudar e os momentos passam a ser outros que não aquele que se viveu naquela dada altura… para mim não existe fidelidade nem infidelidade, para mim existe amor, existe uma forma de estar neste mundo que é amar tudo e todos de uma forma incondicional… aceitar que da mesma forma que eu amo, há um outro ser (a mulher com quem eu me relaciono por exemplo naquele dado momento) que também pode amar como eu… e amar é dar-se, amar é darmo-nos totalmente e essa forma de dádiva pressupõe o compreender, o aceitar, o entender e, muito acima de tudo, o querer simplesmente que o "outro" seja feliz!… e se esta felicidade "passar" por outro amor, "passar" por outra relação, eu apenas tenho de entender que, naquele momento, a forma de ser e de estar não é a mesma que era no momento anterior… se amar de verdade, vou entender esse facto, vou compreender isso, vou aceitar que quero a felicidade do outro em detrimento da minha!… amar é isso, é amar de tal forma que o outro seja mais importante do que nós próprios!… porém, o que está de errado e o que torna o amor em dor e te faz sofrer ou te faz falar em infidelidade, é apenas o errado sentido de posse que ainda existe na nossa cultura, talvez também na nossa espécie, talvez na ideia errada da traição, de sermos "substituídos" por outro alguém!… já o disse tantas vezes, ninguém é de ninguém!… como posso eu "possuir" a minha companheira, como posso ser eu "dono" dela?… o amor ou uma relação pressupõe e/ou obriga à escravidão?… à posse?… não, claro que não!… amar é deixar fluir… amar é deixar ir se isso for a forma de amar do nosso ser amado!… amar é desejar que o ser que amamos seja feliz, da forma que ele quiser e não da forma que eu "quero"… amar é, pura e simplesmente, dizer,  vai e sê feliz, e se fores feliz com quem quer que seja, eu vou também ficar feliz, por ti!… não há nada a perdoar, não há que perdoar… há apenas que amar, há apenas que entender e aceitar… aceitar e saber agradecer tudo o que nos é dado, e darmo-nos da mesma forma que desejamos que se nos dêem a nós!… a infidelidade de que se fala habitualmente passa quase sempre pela "troca" de alguém por outro alguém, um momento de deslize como se diz, uma traição!… vejam isso de outra forma, vejam isso como uma procura constante da felicidade e não coíbam os outros dessa procura… deixem que todos tenham a possibilidade de "voar", de encontrar outros horizontes, de buscarem o amor… a busca do amor é uma procura constante e só ireis parar quando vos convencerdes que o amor é amar duma forma sem posse, nem destino, duma forma incondicional… amem mesmo que não vos amem…”

Joaquim Nogueira

Joaquim Nogueira

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