Foi o primeiro domingo que o avô Arthur passou em nossa casa nova. Foi bom. Brincamos o dia todo. À noite fui ao quarto dar um beijo no vovô. Foi a primeira vez que vi o sorriso dele mergulhado num...
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A Primeira Perda
Quando, naquela noite, o pai entrou no rancho com o filhotinho dentro duma caixa de sapatos, não era apenas um cusco que me dava: era minha primeira perda, três meses depois…
Sem título
esmagar-te-ia como quem pisa em uma lesma se fosses reles e despicienda pegajosa és tal e qual um molusco que não me larga insistente que se agranda em minha morada e em meus parcos teres como posso...
Sobre a circunstância e seus muitos apelidos
no cu do mundo, no oco da boca banguela da magra terra (a loba faminta que a todos engole), plantaram o zé, que a vida apelidou ninguém e que o tempo chamará lembrança. ficaram: maria, que a...
Terceira Pessoa
Tá certo, um pouco se devia à insônia. Sabia que não podia tomar café preto antes de deitar – afugentava-lhe o sono. Outro tanto, ao zumbido infernal dos mosquitos (como carros de...
O Abaporu
Fizeste-me abaporu por pura maldade Sabendo-me fraco ordenou jejum Quebrei Castigou-me então com a fome Resignei-me Pior do que a própria morte é o soro da resignação Riu-se de mim...
Improvável
Pra que caneta que em papel em vão lavra palavras?
Mais me serviria arado enxada e terra
São improváveis meus versos
No chão, por mais seco, sempre um ou outro inço…
A Degola
Eu gostava de ver. Sentia uma espécie de gozo, que só experimentava quando via o sangue escorrendo pelo pescoço rasgado. O capim ficava salpicado de um vinho forte. As folhas dos eucaliptos, que...
O Vago Lume
O vago lume da brasa a vagar por entre os dedos sou nada profundo na vaga que ouso na vida só sentado no cepo vagueio na noite pito sem sono mateio o próprio zumbi mas ao alvor estarei pronto: Tropearei o...
Catarro
TENHO PÉS SUJOS PRA TUA IMACULADA MORADA PALAVRÕES PRA TUA ILIBADA REPUTAÇÃO CATARRO PRA TUA SALIVA PROS TEUS AMORES-IMPERFEITOS MINHAS SEMPRE-VIVAS