Sim, amantíssimos discípulos. As redes sociais me capturaram, como uma tilápia indefesa e desgovernada.
Habemus página. Habemus perfis. Habemus canais pra tudo quanto é canto cibernético. Mas não implorarei para que ninguém deixe seu like, mesmo que isso me custe uma dolorosa despencada no ranqueamento do Youtube. Essa história de curtir, de comentar, compartilhar e assemelhados são insidiosas armadilhas dos coisas-ruins espalhados por este universo velho sem porteira.
Por ter atravessado milênios sem conta e influenciado centenas de gerações (desde Zorobabel, príncipe de Judá, até a geração do rapazola Zuckerberg, aquele que mais manja desses paranauê internéticos aos quais fomos obrigados a aderir), a doutrina duñesca e seus oráculos multinacionais resistirão a todos os percalços capetísticos, de natureza digital ou não, que venham a se abater sobre seus dogmas e seus templos de adoração.
Todavia, como os boletos que chegam até mim resistem a toda sorte de reza braba e exorcismo com alho, vejo-me forçado a avalizar produtos e serviços junto ao meu rebanho em troca do vil metal.
Na qualidade de influencer, entretanto, minha responsabilidade aumenta. E aviso desde já que não recomendarei produtos que levem ao vício e à devassidão, que sejam de comer, beber ou vestir, que afrontem os dias santos estabelecidos por mim – o Venerável Duña. Serão também recusados os artigos que promovam preguiça, molenguice e bocejos, que provoquem azia, hérnia de disco ou cerume nos ouvidos, que não apresentem serventia moralmente apropriada, que contribuam para a bocasujice dos pirralhos respondões, que apresentem velocidade gravitacional análoga a um Patolino de pelúcia quando atirado pela janela, em apartamentos situados ao nível do mar. Fora isso, de boas. Nosso Departamento Comercial não medirá esforços para deixar tudo suave na nave.
Esta é uma obra de ficção.
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