VOMITEI sobre a mesa durante o jantar. Ali estava aquela nódoa amarronzada salpicada de milho, arroz e pedaços de salsicha em cima da toalha branca de linho, bordada com motivos florais. A massa viscosa do que eu já havia digerido das guloseimas do dia, ao lado do macarrão, da galinha ao molho e do arroz branco tão desveladamente preparados por mamãe para aquela ocasião. Papai me puxou, brusco, pelo braço e levando-me até a biblioteca, surrou-me de cinto, levantando-me vergões. Subi para o quarto e enterrado na cama e sozinho, sob as cobertas, chorei copiosamente até que me veio nova e bem mais intensa golfada, desta vez, de um líquido preto e fétido, que parecia não mais querer parar de jorrar de minhas entranhas. Afoguei-me. Parte do líquido foi parar-me no cérebro e agora já há vinte dias estou aqui, ligado a estes aparelhos. Escutei-os dizendo que o que eu tenho é raro e que não sabem se voltarei. Papai me olha, sei que com remorso e eu digo sem falar palavras, que não tive culpa e que sinto muito por ter estragado o jantar que oferecia ao comendador.
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