Já dizia Francis Bacon, que "são maus descobridores os que pensam que não existe terra porque só podem ver o mar". Ou seja, não é porque não conseguimos explicar ou entender um algo que esteja além do alcance de nossa razão (tadinha), que esse algo esteja definitivamente excluído do reino das possibilidades. A ciência exige comprovação de tudo o que se diz existir, mas se exime do ônus de comprovar a não-existência daquilo que ela afirma não existir.
E eu aqui mergulhado em dúvidas sobre minha própria existência, sobre a existência de uma tal realidade, sobre a existência de algo antes e de algo depois que essa minha suposta existência deixar de ser real (se é que sou mesmo real).
Bebendo uma xícara de chá, olho pela janela. Fico longas horas observando uma pitangueira (eu acho que é uma pitangueira…) balançando suavemente suas folhas. Por entre o verde da copa vazada destaca-se o vermelho vivo de uma rosa (o terreno do vizinho é um tanto mais alto do que o do “meu” edifício), que também balança, calmamente, como que me convidando a um toque, um beijo apaixonado, a descoberta de uma outra realidade, muito melhor do que esta (o que não parece ser lá muito difícil). Todo o resto desaparece. Fica só o vermelho cercado pelo verde. Embalados pela brisa.
Mesmo meu corpo parece deixar de existir. Não me movo, não pisco, o chá esfria.
Não sei quanto tempo fiquei ali. Quando “retorno”, uma sensação muito boa, de calma e lucidez parece apontar por sobre a desesperança que vem me consumindo nos últimos dias.
Talvez seja um absurdo não haver mais nada além do que posso sentir.
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