Simplicíssimo

Existem Extra-Terrestres, Afinal?

Numa noite dessas, domingo, estava eu sentado em frente à TV, esparramado no sofá, praticamente sentado nas costas. Passava um programa de grande audiência, desses de variedades — programa que, por sinal, já veiculou um monte de informações grosseiramente equivocadas —, apenas deixando-me invadir pelas imagens, despreocupadamente, como quem folheia uma revista na sala de espera do dentista.

Descobriram um novo planeta, que foi batizado com letras e números, tipo "ZYB32PTS". A partir desta informação, o programa aproveitou para polemizar e abriu canais para que os telespectadores votassem na possibilidade ou não da existência de vida em outros planetas, enquanto foi mostrando a opinião de astrônomos a esse respeito. É claro que apenas um dos cientistas entrevistados não desdenhou a hipótese de a Terra não ser o único astro habitado. Os argumentos usados para justificar a impossibilidade de vida em outros planetas eram que só a Terra — ao menos que se saiba até agora — contém o oxigênio indispensável à vida, que em outros planetas o ambiente é esterilizante — dadas as condições extremas —, que, se houver vida, esta será microscópica, que a distância entre a Terra e planetas de outros sistemas é tamanha, que seria impossível qualquer comunicação entre eles e tal.

Todos argumentos muito plausíveis e consistentes, é certo.

Mas, uma coisa chamou-me a atenção: Foram considerados apenas os elementos, as condições e a realidade que nos são conhecidos. Ou seja, não se cogita — ou não se aceita — a hipótese de algum elemento químico ainda desconhecido (claro que provavelmente muito raro), de vida em condições diversas das nossas e de realidades que possam ir para além de nossa percepção ou entendimento.

Ora, o que dá a certeza de que não existem elementos químicos ainda desconhecidos? De onde vem a convicção de que não existem outros tipos de organismos, talvez até ligados direta ou indiretamente a tais elementos?

Imagine, quem sabe, um planeta orbitando uma estrela menor que o Sol, mas com uma massa muito maior e em cujo núcleo ocorram reações ainda mais dramáticas, por ser um corpo relativamente jovem e, portanto, em contração acelerada. Um planeta que se desloca em uma órbita elíptica acentuada, pois foi, em um passado longínquo, arrancado do movimento em torno de uma outra estrela mais velha, que teve sua força de atração suplantada pela vizinha mais nova, mas que ainda desempenha grande influência sobre seu "ex-orbitando". Que fenômenos climáticos e físicos extraordinários poderiam ocorrer em tal mundo! Se esse processo drástico de mudança de órbitas tivesse ocorrido durante milhões de anos, levando a mudanças gradativas em sua superfície e núcleo, ao menos algumas das formas de vida anteriormente presentes poderiam ir-se adaptando, garantindo a continuidade da vida no planeta, mesmo com os cataclismos inerentes à mudança de órbita — algo parecido, talvez, não sei, com o que aconteceu na Terra, durante as glaciações ou o trágico fim dos grandes répteis, por sinal ainda um mistério.

Não se pode considerar tal possibilidade de todo absurda, já que não se conhecem tantos exemplos assim de planetas que não sejam os nossos vizinhos solares. Observe que só de junho a agosto de 2000 foram descobertos nada menos de dez planetas — de lá para cá, ao que me parece, já se contam cinqüenta e cinco planetas descobertos fora do Sistema Solar, mas sobre os quais quase ou nada se sabe — e que alguns destes são ainda maiores do que Júpiter e orbitam em uma proximidade tal de suas estrelas, que chamam a atenção dos observadores por não se saber — ou, ao menos, não se sabia — como é possível planetas de tais dimensões tão próximos de seus sóis.

Quanto à realidade, provavelmente ela seja "real" só na medida em que acreditamos assim. Ou seja, aprendemos a perceber as coisas como elas "devem" ser percebidas e vamos deixando de lado tudo aquilo que não se encaixe nos padrões do conhecimento e das percepções aceitos. Se "aprendemos a gostar" — aí está o tipo da coisa que não me entra na cabeça: se o gostar é reflexo do prazer, quer dizer, gostamos daquilo que nos dá algum tipo de bem-estar, de satisfação, como se pode aprender a gostar? O bem-estar é uma estado particular e não depende, ou não deveria depender, de cartilhas! Isto parece estar mais para condicionamento —, quer dizer que também aprendemos — ou somos condicionados — a perceber e a nos relacionar com as coisas ao nosso redor de uma determinada maneira e é a partir daí que temos a noção de realidade. Provavelmente, se pudéssemos reprogramar nossa percepção e entendimento, também teríamos uma outra realidade. Isso equivale a dizer que uma tal "realidade" está só em nossa mente.

Bom, considero muita pretensão, até arrogância, imaginar que nossa ciência seja assim tão poderosa e que sejamos assim tão relevantes no contexto cósmico. Não se pode ter como definitiva uma certeza que nos escapa todos os dias, mesmo nas coisas banais como estarmos ou não acordados. O homem não sabe o que é — esta tem sido a grande busca de nossa cultura e talvez das outras também —, pode até saber o que faz — muito embora, olhando em volta, eu tenha quase certeza de que, definitivamente, não sabe —, mas não conhece os mecanismos últimos que o permitem fazer, ou que o impedem de fazer.

Conhecemos só uma parte e não temos a verdadeira noção do todo, assim como um turista que se deleita com a grandiosidade das muralhas chinesas só pode ver a parte logo à sua frente. Em sentido contrário, como um físico comentou comigo, um canudinho (desses de refrigerante) visto de longe é apenas um risco; somente quando nos aproximamos é que temos a percepção das tantas outras dimensões. Ou seja, não se pode concluir muito se não tivermos conhecimento do todo e das partes, de perto e de longe… da mesma forma que para o infinitamente grande as probabilidades são enormes, também na escala do infinitamente pequeno isto ocorre. Aí está a Mecânica Quântica, que não me deixa mentir.

O homem, com todo o esse seu conhecimento extraordinário, toda a sua ciência e certezas, criou sempre mais impedimentos às relações com seus próximos e consigo mesmo, comprometeu a própria existência e perdeu o controle sobre sua mais notável cria — o capital. O que o homem ainda não destruiu está ameaçado e, ao que tudo indica, a humanidade está cada dia mais infeliz. Isto não parece ser um bom indicador de nível racional.

P.S.: Existe, então, afinal, vida em outros planetas? Sei lá!

Leandro Laube

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