Simplicíssimo

Utilitarismo

Muito se tem comentado, aqui por essas “páginas”, sobre a simplicidade nos textos e sobre a liberdade (ou libertação) de se escrever simplesmente por escrever, sem quaisquer pretensões que não a de colocar palavras umas depois das outras. É claro que nem todos concordam com esse ponto de vista e nem haveria porquê.

Particularmente, sou da opinião de que nem tudo deve sempre ser útil, nem tudo deve sempre reverter em algum proveito ou benefício. Portanto, nem todo texto deve ser cheio de significado ou finalidade.

Aliás, acho até que a muitos textos são atribuídos conteúdos e significados maiores do que realmente comportam (alguns até que o próprio autor desconhece).

Quem pode afirmar, com certeza, o que é útil ou não, afinal? Há algumas décadas o petróleo era pouco mais que um óleo, que vertia do chão em alguns lugares, sujo e incômodo; hoje move o mundo e por ele se mata sem culpas. Se não podemos afirmar nem o que é o bem ou o mal, como poderemos investir em uma dada utilidade, se o que a tem hoje poderá não ter amanhã ou o que é para um não o é para outro?

Então, por que não o mero deleite de uma transcendência ociosa e despretensiosa, uma vagabundagem descarada, uma enganação impudica, ao menos de vez em quando? Não deve fazer tanto mal assim…

Talvez um dos entraves seja a vaidade de quem escreve. O texto é produzido para ser lido, entendido e aceito; seu autor espera o reconhecimento a partir daí. Colocar um escrito ao público já indica essa necessidade de partilha e de aceitação (Mathias Aires até já me parafraseou nisso em “Reflexões Sobre a Vaidade dos Homens”, colocando-se, ele próprio, entre os vaidosos, já que também publicou seus escritos). Há quem diga que todo artista é exibicionista, porque se coloca em frente aos demais para ser visto e apreciado, e também narcisista. Talvez seja mesmo; mas, não fosse assim, provavelmente não pudéssemos desfrutar dos prazeres das artes (que considero uma das grandezas humanas — uma das poucas, diga-se).

Mas, muitas vezes, o amor próprio e aquela vontade de se sobressair, de ser venerado além dos demais, acaba maior que o próprio texto. Logo, nos anexos podem ser encontrados o orgulho e a arrogância. Isso sem entrarmos no debate dos interesses da Indústria Cultural.

Não estou querendo dizer que quem produz linhas imbuídas de mensagens esteja errado, que seja orgulhoso ou arrogante. Neste caso eu seria o primeiro da lista, já que estas linhas aqui têm, também, uma finalidade e uma mensagem. Muito pelo contrário, acredito na importância e no poder das letras para a transformação humana.

Mas, essa transformação também ocorre pela ociosidade, pelo mero exercício do absurdo.

Quem sabe um pouco mais de desvios e galhofas não façam bem à nossa mente tão carregada e perturbada?

… 

E eu já nem sei mais onde queria chegar com isso…

Leandro Laube

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