Simplicíssimo

Kabuki

Em minha última semana de Japão, assisti, pela primeira vez, a uma das mais belas manifestações artísticas japonesas: o kabuki.
Como poderia sintetizar em palavras ao que testemunhei durante duas horas? Dificil fazê-lo, Simpliamigo. Mas tentarei.
O maravilhoso espetáculo começa já pelo próprio prédio que abriga esta arte: uma construção secular conhecida como kabuki-za, localizada em Higashi-Ginza, no centro de Tóquio . Tive sorte de subir por aquelas infinitas escadas, passando por imagens coladas às paredes dos grandes atores do Kabuki. Chegando ao quarto andar (acessível a todos aqueles que buscam um preço, digamos, mais popular), visualiza-se o imenso palco: uma verdadeira arena móvel; que, com o decorrer do espetáculo, também irá rodopiar e transformar-se em tantos mundos perante os nossos olhos, a ponto de ter-se a impressão que o palco seria mais um ator em cena.
E por falar nos atores… Que digo? ATORES (sim, ponha-se letra maiúscula na profissão a todos eles). Na primeira peça da noite, fomos apresentados a toda uma geração deles: o grande Matsumoto Koshiro entrava em cena com o filho e outros gigantes do kabuki, para anunciar a estréia de seu neto (de apenas quatro anos) nos palcos do kabuki. Não, meus amigos, longe de tratar-se de nepotismo. O kabuki somente se mantém se for passado de pai para filho. E isso fica claro quando neto, pai e avô estão em cena fazendo a famosíssima “dança do leão” (Renjishi) – um dos momentos mais importantes, tradicionalmente, em toda apresentação de kabuki. A sincronia no movimento dos olhos, mãos, batida dos pés, enfim, esse conhecimento tão perfeito do corpo e da arte do parceiro de cena somente seria possível entre aqueles do mesmo sangue, que se conhecem e treinam diariamente desde o nascimento até a morte. Nada menos que fascinante.
Assisti naquela noite a um segundo espetáculo, que relata a revolta e a trágica morte de um samurai conhecido como Chobei, interpretado por outro maravilhoso ator, chamado Nakamura Kichiemon. Desculpem: um MARAVILHOSO ATOR; que não deve nada em talento aos maiores nomes do teatro ocidental. Naquela peça, além de sua presença, chamou-me igualmente atenção o ator que interpretava sua esposa – como se sabe, no kabuki, somente são permitidos atores, jamais atrizes. Pois bem, o ator que interpretava a esposa do samurai era de uma delicadeza nos movimentos, na voz, a ponto de fazer-nos concluir que a presença de uma atriz seria, realmente, dispensável.
E se a Simplileitora duvida desta última frase, por considerá-la machista, recomendo: vá ao kabuki. E concordarás comigo que há coisas na vida cuja beleza é tanta, que o melhor mesmo é não mexer na tradição.

Edweine Loureiro

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