Trabalho feito cuidava de guardar todos os seus instrumentos. Parava um pouco, examinava melhor. Aquela expressão estranha lhe lembrava algo. Viajava então no tempo e voltava a ser uma criança.
—Pai, pai, responde pai.
Sem nada entender, aquele menino de 5 anos pensava em chamar sua irmã. Talvez ela pudesse dar algumas respostas.
—Porque papai não se mexe?
—Pedrinho, Pedrinho, você vai ter que ser forte.
Perto dali a poça de sangue se separava em duas direções. Em uma delas encontrava um sapato fechado vermelho. Com ele, um homem grande e forte dava passos rápidos dignos de quem quase não seria visto.
Vinte anos depois Pedro reencontrava-se com sua irmã:
—Porque você faz isso? Você sabe que é terrível, eu sei que você sabe. Pare de fazer isso meu irmão. Pare mesmo. Mas lembre-se, eu te amo e sempre te amarei. Você sempre poderá contar comigo.
Aquele homem, agora arrependido chorava muito. Mas mesmo assim não desistia do que ia fazer. Afinal desde dois dias atrás não conseguia sossegar:
Estava passeando, dirigia-se a uma praça onde seu pai o levava. Sem muita surpresa notava que o banco onde sempre se sentava com ele estava ocupado. Um homem com sapatos vermelhos. Sim, eram eles, tinha certeza. Certificou-se que sim. Era ele. Sentado logo onde. Que audácia do destino. Planejou como, onde e quando fazer o trabalho.
Antes do último golpe ouviu palavras de clemência:
—Não, calma, sentei ali porque queria que isso acontecesse mesmo. Você não sabe de tudo. Se fiz o que fiz foi pelo mesmo motivo que você irá fazê-lo agora. Estou arrependido do que fiz, mas mesmo assim minha própria consciência me condena. Não consigo mais viver sem me perdoar. Não quero o seu, mas o meu próprio perdão. Logo, acabe logo esse serviço.
Pedro olhava aquele homem não mais com aquele ódio todo. Via nele tudo de ruim que havia dentro de si. E num ato de fúria terminava o que havia começado. Caindo por terra começava a chorar novamente. Seu arrependimento e culpa agora assumiam o nível máximo. Pensava em atentar contra sua própria vida e ao mesmo tempo em que tentava pegar na bolsa uma de suas ferramentas sentia alguém lhe cutucando. Era uma menina que devia ter uns 5 anos que lhe perguntava:
—Ei, moço, porque está chorando tanto? Posso ajudar em alguma coisa?
—Já ajudou mais do pensa minha filha. Você não sabe o quanto.
Abraçou-a fortemente, deu um beijo na testa daquela que o fez renascer e saiu dali prometendo pra si mesmo que seria um novo homem.
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