“Ultimamente têm passado muitos anos”. Li essa frase em algum livro do Fernando Sabino, há algum tempo atrás. Se não me engano, quem a proferiu foi o grande Rubem Braga, exímio cronista e amigo de Sabido.
E não há melhor frase para ser dita ou reproduzida em começos/finais de ano. Ultimamente têm passado muitos anos, e muito rápido. O ano novo já está aqui. E estão logo ali os meses que se passaram. Uma sucessão de ontens. Sim, porque tudo parece ontem.
Gostaria de encontrar uma explicação para a passagem tão rápida do tempo. Não costumava ser assim quando era criança.
Naquele tempo, a véspera do natal parecia durar dias e dias. Depois da ceia com a família, saíamos para visitar mais de 300 mil pessoas. Tios, padrinhos, amigos de meus pais. Quase sempre saía da casa da visita com um presentinho na mão. Eu amava muito tudo isso.
E ficava acordado até altas horas da madrugada, ou abrindo presentes ou brincando com eles com meu primo.
Daí para o ano novo, os dias corriam normais, sem pressa.
No dia 31, mesmo roteiro. Comemorávamos em casa ou na casa de algum parente e depois saíamos para visitar os mais próximos. Eu, com meus 8 ou 9 anos de idade, só dormia às 6 da manhã, depois de ver nascer o sol do dia 01 de janeiro do ano que chegava.
Eram outros tempos. A vida era melhor, mais tranqüila. O mundo não era tão complicado. Existiam os mesmos males que existem hoje, claro, mas nada era tão globalizado, tão rápido, instantâneo. Eu era inocente. Ainda freqüentava a Igreja, acreditava em Papai Noel e na bondade dos homens.
Hoje é tudo muito rápido. As pessoas vêm e vão. Meu primo se casou e tem uma filhinha. A maioria dos amigos de meus pais foram morar em outras cidades. Todos se afastaram. Não que quiséssemos. O tempo se encarregou de fazer isso.
Na véspera do natal, nós ceamos, visitamos o pouco que sobrou da família e dos amigos – quando visitamos – e vou dormir cedo. No ano novo, geralmente discuto com meu pai por causa do show da virada – ele sempre quer assistir, comigo! – e eu quero dormir. Mas nada de muito grave, eu até dou muita risada.
Não ligo mais para 300 pessoas para desejar feliz natal nem feliz ano novo como fazia a até alguns anos atrás. É um ato tão insincero, na maioria das vezes, que prefiro me abster. Não sou mais inocente, há muito deixei de freqüentar a Igreja e a bondade dos homens pra mim é como ganhar na mega-sena.
Mas ainda acredito em Papai Noel.
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