Ao lembrar de um período feliz de minha vida não tem como não sentir saudade e preocupação com a juventude de agora. Foi-se o tempo em que a efervescência cultural ganhava os espaços de todos os jornais do país, onde a criatividade e o bom gosto imperavam, norteando os valores dos jovens da época. Ah, felizes anos sessenta!
Lembro-me bem que nos anos sessenta os jovens eram muito politizados. Quase todos freqüentavam os grêmios recreativos, os literários, as associações de classe, sendo a UNE a catalizadora das cabeças pensantes desse país. Todos esses fatores contribuíram para o ingresso de muitos estudantes em partidos políticos, sendo alguns deles expoentes da vida pública brasileira atualmente. O ensino público era reconhecidamente superior ao de várias escolas particulares de hoje em dia. É uma pena tudo isso existir apenas em nossas lembranças.
Os anos sessenta cheiravam à Arte. A todo momento nasciam os movimentos musicais, teatrais e culturais espalhados de Norte a Sul do Brasil. A agenda da juventude era rica em todos os sentidos pois havia muita coisa boa para participar. Os teatros viviam abarrotados, os cinemas da mesma forma. Os movimentos hippies, a Tropicália e a Bossa Nova se misturavam em meio à alegria contagiante que proporcionavam os inesquecíveis festivais da MPB. Esse colorido abrilhantou a alegria e a felicidade de uma geração inteira, por um bom tempo.
Essa questão de se voltar ao passado é um tema que me sensibiliza sobremaneira. Eu tenho certeza de que cada dia vivido se transforma em portas que jamais se abrirão para nós. Essa "despedida silenciosa" tem o poder de nos deixar angustiados se não tivermos os pés fincados na esperança de um feliz amanhecer.
É preciso sonhar sempre. Precisamos acalentar a esperança que transforma noites cinzentas em dias de sol. Devemos de tudo fazer para para ver renascer aquela chama que aqueceu um tempo feliz que se foi. Talvez em breve possamos assistir ao advento de um novo tempo, rico em projetos e possibilidades que venham enriquecer o viver dos jovens, hoje tão carentes de movimentos edificadores. Resta-nos plantar as sementes que darão os frutos necessários para que a boa nova aconteça e prevaleça na vida das futuras gerações.
Recife, 27 de março de 2006.
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