Simplicíssimo

Por que damos tantos nomes e apelidos para pênis e vagina?

Uma das grandes características do ser humano é a possibilidade de utilizar-se da linguagem falada para expressar e comunicar aos demais de sua espécie o que desenvolve nas profundezas do pensamento e da emoção.

Entretanto, nem sempre nos é possível tal façanha. Limitações culturais ou conflitos pessoais muitas vezes interferem neste processo. Historicamente, ao lado da morte, o sexo sempre foi um grande tabu para o homem. Para ambos, sempre nos é mais fácil falar de forma indireta ou figurada. Um exemplo disso são as expressões “bater as botas” ou “empacotar”, relacionadas à morte e outras do tipo “afogar o ganso” ou “trocar o óleo” para o ato sexual. Assim, sem nos darmos conta, criamos novos nomes, apelidos e eufemismos para driblar ou nos adaptarmos aos tabus e preconceitos sociais. Aqui, se torna de extrema valia a ajuda do dicionário:

• Nome: “palavra que designa pessoa, coisa ou animal, qualificação; título, honra, reputação, fama; Dar nome a: apelidar, tornar famoso.” • Apelido: “denominação ou título distintivo, que designa alguma qualidade notável ou característica; nome particular que se dá a alguma coisa; designação alusiva a algum defeito da pessoa.” • Eufemismo: “ato de suavizar a expressão de uma idéia, substituindo a palavra por outra mais agradável, suave, delicada ou polida”.

E as palavras pênis e vagina? o Pênis vem de phallus (falo), palavra latina derivada do grego, muito utilizada simbolicamente para expressar força, poder e agressão, que culturalmente estão muito relacionados à visão de masculinidade. o Vagina vem do latim vaginae, significando bainha da espada, invólucro, casca. Nota-se uma função protetora e aconchegante, culturalmente muito relacionada à visão de feminilidade. Curiosamente, vários estudiosos apontam também para a lenda da vagina denteada onde, como o próprio nome diz, ela teria dentes que poderiam agredir o pênis durante a relação sexual. De posse destes conceitos, podemos então agrupar os nomes dados ao pênis e vagina em dois grandes grupos, de acordo com o objetivo (inconsciente na maioria das vezes) a que se propõe:

1. Pela necessidade de reduzir o impacto ou esconder o sentido do nome real (o próprio conceito de eufemismo);

2. Pela necessidade de expressar, qualificar ou ressaltar características de órgão (o próprio conceito de nome ou apelido).

Vamos ver mais a fundo estas dois grupos:

1. Pela necessidade de reduzir o impacto ou esconder o sentido do nome real (o próprio conceito de eufemismo) Imagine aquela sala de bate-papo de sexo na internet. Quem entra com seu verdadeiro nome? O “nick” serve de proteção para que os outros não associem as falas (tidas como socialmente feias, erradas, imorais) à pessoa real. Da mesma forma, falar abertamente em pênis e vagina pode despertar muita vergonha e ansiedade ao evocar a própria função sensual em que estão envolvidos (tida como socialmente feia, errada, imoral). Cobra e Maçã, por exemplo, são os personagem do maior pecado bíblico, quando certamente o proibido não era uma fruta. Assim, reduz-se o impacto dos termos, numa forma de dessexualização dos mesmos. Um bom exemplo disto podemos ouvir das crianças (e muitas vezes dos papais) com o rótulo de Pipi, Xixi, etc. que referem-se ao ato de urinar. O mesmo pode ocorrer sob a forma de animais, idêntico aos personagens das estorinhas infantis (lobo, porquinhos, …). Neste grupo estão o Passarinho, Peru, Pinto, Minhoca, Perereca, Periquita, Pomba. Para minimizar ainda mais o efeito, o diminutivo também é comum: Pipizinho, Peruzinho, etc. Ainda neste sentido também é interessante o uso de nomes próprios para pênis e vagina, como se fosse uma outra pessoa. Assim, quem está com aqueles impulsos “imorais, sexuais, agressivos” não é o indivíduo, mas o Braúlio, o Zezinho, a Ritinha e a Greta Garbo lá de baixo. E, mediante à tão temível situação de falha masculina na hora H, fica fácil então dizer: “não sei o que está acontecendo com ele”. Alguns nomes aparentemente não nos diriam nada (e o objetivo é justamente esse) se usados em outras situações, como por exemplo Bilau, Piça, Xana, Xota, Xoxota, Xexeca.

2. Pela necessidade de expressar, qualificar ou ressaltar características de órgão (o próprio conceito de nome ou apelido). Pau, Espada, Mastro, Pistola, Ferro, Pino, Pica, representam objetos duros (o pênis em sua atividade fisiológica) e dotados de potencial agressivo, diferentes do mole e frágil Pintinho da criança e muito próximo da etimologia da palavra pênis. Aranha e Perseguida, nos remetem igualmente à agressividade e às fantasias de medo (da própria aranha ou do perseguidor), talvez ligados à figura histórica da vagina denteada. Concha, Gaveta, Gruta-do-amor, Mantegueira, demonstram a mesma fisiologia da mulher, igualmente relacionado à própria etimologia da palavra vagina. Já a expressão de desejos de que a relação sexual seja prazeirosa, gostosa, pode ser encontrada no Biscoito, no Pirulito, no Picolé, na Banana, Lingüiça e, pelo lado feminino, no Bacalhau, na Batata e na Maçã.

Assim, pênis e vagina recebem as mais variadas denominações por mera necessidade! Necessidade do ser humano expressar de forma mais suave ou escondida dos tabus de cada cultura e em função do que representam, simbolizam e até das fantasias que despertam em cada indivíduo. Vale ainda lembrar, que isto não é uma exclusividade destes dois nomes, mas de tudo aquilo que gera preconceito e desconforto na sociedade e que, sem eufemismos, ficaria “exposto à mais pura nudez”. Basta para isso focarmos desde os complexos tabus como o ato sexual e a morte, comentadas no início deste texto, passando pela prostituta (Vadia, Mulher da Vida, …), às manifestações musicais nas letras dos Mamonas Assassinas ou Raimundos e nas coreografias dos pagodes (que todas as idades cantam e dançam sem maiores problemas) e chegando ao simples peido (carinhosamente chamado de Pum) Alguns nomes e apelidos para pênis e vagina

  • Pênis – alavanca-de-arquimedes, aparelho, arame, arma, badalhoco, badalo, bagre, banana, barbarroxa, bicho, bimba, bordão, brachola, caceta, cacete, cahado, caibro, camandro, cambanje, cambão, canivete, caralho, careca, carimbo, catano, catatau, catso, cazzo, chouriço, cobra, espada, espeto, espiga, estaca, estrovenga, ferramenta, ferro, fumo fuso, ganso, instrumento, jeba, judas, lascão, lenha, lingüiça, madeira, mala, malho, mangalho, mango, manjuba, manzape, manzapo, marsapa, marsapo, marzapo, mastro, mastruço, membro, minhoca, minhocão, minhocuçu, nabo, negócio, nervo, parte, parte central, passarinho, pau, pau-barbado, pau-barbudo, pau-de-cabeleira, pau-de-fumo, pau-de-sebo, pé-de-mesa, peça, peia, peru, pica, piça, picha, pichuleta, picirica, piciroca, picolé, picolé-quente, pila, pimba, pingola, pinguelo, pingulin, pino, pinto, piroca, piru, pirulito, pissa, pistola, pito, piu-piuporraz, porrete, prativai, pua, reta, robalo, rola, sarrafo, seringa, tora, trolha, vara, verga, vergalho

 

  • Vagina – aranha, babaca, bacalhau, barata, bichochota, bixoxota, bombril, boceta, buceta, brecha, buça, buraco, caranguejeira, carne-mijada, chana, chavasca, chibiu, chincha, chochota, chota, cona, cono, concha, crica, gaveta, greta, greta-garbo, grota, gruta, gruta-do-amor, inhanha, lacraia, lasca, manteigueira, negócio, nhanha, nica, pachacha, pachocho, pachoucho, pachucha, parte, parte central, passarinha, perereca, periquita, periquito, perseguida, pito, pixana, pomba, pombinha, precheca, quirica, racha, tabaca, tabaco, xana, xereca, xibiu, xinxa, xota, xoxota, xuxa.

Eduardo Hostyn Sabbi

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