Simplicíssimo

Edição 247 (08/10/07) – Encontro diário

Teria acordado bem disposto não fosse o sol muito quente. Levantara já suado e preocupado. Quando pensou no dia que teria pela frente cansou e parou. Frente ao espelho mais de quinze minutos. Á direita a escova. Bisnaga de pasta já no final á esquerda. Incrível, esta era a única hora em que conseguia ficar parado. O preço era levantar-se mais cedo e para isso ele planejava. Dormiria mais cedo, pra poder parar e ficar sem pensar. Nem que por quinze minutos que fosse, queria mais. Sentou-se à mesa
Então percebeu, não estava na cozinha. Pegou o telefone como se pegasse a xícara. A caneta como se fosse a colher e ficou com fome. Quase na hora do almoço tomou um café. Preto, fraco e frio como ele. Nem viu o caminho no corredor, elevador. Na verdade a única pessoa que viu ele não viu. Só sentiu o cheiro. Era a ascensorista. O único sorriso que valia seu dia, e parecia sincero. Duas horas no congestionamento. Usava um caminho mais difícil, pra demorar, pra demorar. Eis que jantar, eis que banhar, a barba cortar, eis que sentar-se e esperar. A cada dia mais cedo, ia pra cama pensando em seu encontro. No incrível encontro em que ele fazia aquilo que escolhia fazer. Fora os três cigarros que acendia por dia, pois ele escolhia os cigarros, mas a empresa é que dizia onde queimá-los, este era o momento ímpar de fazer sua vontade pura! Uma noite curta e hoje ele conseguiu, foram dezessete minutos consigo mesmo. Ele ainda consegue romper o dia fazendo o que deseja. Quem sabe no domingo.

Marcos Pedroso

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