Simplicíssimo

Mamãe Claise

Fã é aquela coisa que o Houaiss define como “indivíduo que tem e/ou manifesta grande admiração por pessoa pública (artista, político, desportista, etc.); pessoa que torce por determinado clube ou time; pessoa que tem grande afeição ou demonstra grande interesse por (alguém ou algo).”

Partindo desta definição, não tenho realmente os 75 fãs que o Orkut diz que tenho. Em primeiro lugar, não sou pessoa pública muito menos clube ou time de futebol ou do que quer que seja. Certamente, poderia ser alvo de afeição ou de interesse por uma ou outra pessoa, mas o fato é que daquela lista somente 37 pessoas me conhecem pessoalmente e outras 16 me conheces de longos papos pela Internet. E as outras 22 pessoas que me adicionaram, de onde tiraram a idéia de me adicionar como fã? Lendo meu perfil naquela parafernália? Não acredito. O fato é que toda esta introdução é um monte de bullshit e o que eu queria falar mesmo diz respeito a uma fã muito especial, que não está entre aqueles 75 “fãs” do Orkut mas que tenho certeza de que, como ela mesmo disse, é sinceramente minha fã número 1: minha mãe.

Desde que me lembro por gente, minha mãe sempre deu todo apoio de que precisei. Não poupou esforços em momento algum da sua vida. Sempre que precisava ceder em algum ponto para satisfazer alguma necessidade ou mesmo até, muitas vezes, alguma vaidade minha, ela cedia. Muitas vezes pensei se todo esse carinho e toda esta pronta-disponibilidade não seria uma espécie de tentativa de substituir os anos de minha infância que estivemos separados, já que ela trabalhava em uma cidade 70 km distante de onde eu morava e nos víamos somente durante os fins-de-semana.

De todo modo, depois de um período de adaptação durante a adolescência, quando subitamente fui morar com ela e com meu antigo padrasto – em plena turbulência hormonal dos 14 anos – para fazer o Segundo Grau (agora Ensino Médio) em uma escola melhor, em Porto Alegre, as coisas começaram gradualmente a se aprumar.

Nunca tivemos um relacionamento do qual pudesse se dizer, “noooooossa, que casal de mãe e filho mais harmonioso!”, mas também nunca fomos dos mais dissonantes. Diria que pra Beethoven não servíamos, tampouco éramos música atonal. Quem sabe, assim… um rock´n roll? Claro que essas pequenas rusgas são normais em qualquer relacionamento entre mãe e filho. No nosso caso, havia (na verdade, ainda há!) uma coisa que sempre entrava no meio da conversa: o porque de eu não parar quieto, fazendo uma coisa só por vez.

Aos 17, quando, tardiamente, quis comprar uma guitarra (tocava (mal) violão há uns 2 anos), minha mãe foi contra. Dizia que ia largar depois de 2 meses. Gravei um CD com minha banda The Brains; tudo bem.

Quando quis fazer um curso de Antropologia de Culturas Urbanas e História da Ciência – ainda durante a faculdade de Medicina – , não só minha mãe, mas também minha vó e minha tia (co-patrocinadoras) olharam com cara feia frente ao inve$$$timento a ser feito. Acabei fazendo vestibular para Filosofia e depois me transferi para as Ciências Sociais da UFGRS, cursando junto com a especialização em Medicina Interna e Endocrinologia.

Um pouco mais tarde, decidi que queria comprar uma filmadora (empolgado com os Seminários Livres em Antropologia Visual que tive nas Ciências Sociais da UFGRS). Grande investimento financeiro novamente, desta vez com dim-dim, pelo que me lembro, quase todo do meu pobre bolsinho. A previsão era que não ia dar em nada. Mas era tarde: a semente havia sido plantada e regada. Neste ano, o primeiro curta-metragem (O Envelope Azul) do qual participei foi multi-premiado no Santa Maria Vídeo e Cinema, já passou na TVE duas vezes, foi selecionado para pelo menos mais dois festivais nacionais na mostra competitiva. Agora em setembro, começamos a pré-produção de mais um curta (A Maleta), com roteiro e direção meus.

Depois, outro desejo se aproximou: fotografia. Primeiro, a imagem em movimento. Depois, a imagem estática, poética da escrita com luz. Novamente, um investimento desta vez gigantesco para comprar uma máquina profissional, que me garantisse tirar as fotos que minha inventividade alcançasse. Novamente, mamãe, vovó, titia torceram o nariz. Fiquei 2 anos só lendo revistas de fotografia enquanto conseguia juntar dinheiro para comprar a bendita máquina. Finalmente comprei: março de 2004. Resultado: maio do mesmo ano foto publicada na Fotografe Melhor, agosto menção honrosa no Concurso Fotográfico da Cidade de Santa Maria e neste ano 2º lugar no mesmo concurso e logo depois seleção para integrar a mostra do Memorial Mallet. 3 colocações em 3 inscrições. Isso não é luta de boxe, em que se conta “43 lutas, 43 por nocaute, sendo 38 no primeiro round e as 5 restantes até o terceiro round”, mas vale dizer que uma preparação adequada para o que se pretende enfrentar, tem muito valor.

Mamãe: acho que a esta altura já deves ter percebido que, assim como com a Medicina, levo tudo que faço muito a sério. Se, quando criança, ganhava um brinquedinho novo só brincava com ele nos primeiros dias e depois deixava de lado, pedindo logo outro recém-lançado pela Estrela ou pela Grow, não significa que estas outras pulsões que tomam conta de mim – tocar, compor, filmar, fotografar, escrever, criar – não sejam por mim levadas até a última instância do sentimento. Faço por que realmente gosto, de todo coração.

Mãe, quero que saibas que todas estas aquisições que tive a possibilidade de ter – e não falo aqui das materiais, mas das emocionais e de conhecimento – se devem grande parte ao teu suporte, à tua onipresença sempre valorosa, forte e determinada na minha vida. Nunca esquecerei da inestimável ajuda que me deste durante os anos da faculdade, onde sem demonstrar cansaço e reclamar num só dia que eu me lembre, você tirava forças não sei de onde para – depois de trabalhar um dia inteiro num trabalho que, eu sei, não é nada fácil – passar lá em casa e ainda me ajudar com a louça, a comida e as roupas. Isso só para citar um pequeno exemplo do mundo de coisas que você fez por mim. Nunca terei tempo de vida, nem dinheiro nem forma alguma de te agradecer por completo, mas uma coisa quero, ou melhor, preciso que saibas: Mamãe Claise, sou muitíssimo grato por tudo que sempre fizestes por mim e por tudo que ainda hoje fazes e preciso dizer-te, sem medo de parecer cafona ou piegas, que, na verdade, antes de você ser minha fã, eu sim sou seu fã número 1, e sempre serei.

Vamos ver se no próximo ano consigo te trazer para perto de mim novamente, para me ajudar lá na Clínica e também para que eu possa te ver ficar velhinha bem pertinho de mim, fazendo sempre aquelas almôndegas alemãs saborosas, o frango xadrez e o rocambole de carne com provolone e outros quitutes deliciosos.

Eu sei que não é Dia das Mães, e estamos bem longe do seu aniversário, mas acredito que qualquer hora é hora para falar uma coisa que gostaria de ter te dito mais vezes nos últimos anos: Mãe, eu te Amo.

Nos vemos nesta sexta-feira. Um beijo. Quero um abraço bem gostoso quando nos virmos, tá bom? E não esquece da Fruki light!

Rafael Reinehr

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