Simplicíssimo

Via Campesina e os Meios de Comunicação de Massa

A Via Campesina é um movimento internacional que congrega organizações de pequenos e médios produtores rurais, trabalhadores agrícolas, mulheres rurais e comunidades indígenas da Ásia, Europa e das Américas. É um movimento autônomo, pluralista e independente de qualquer classificação econômica ou política.

 

Surgida em 1992, tem como prioridades desenvolver solidariedade e unidade entre pequenas organizações agrícolas, buscando promover um senso de igualdade  e justiça social, a preservação da terra, produção agrícola sustentada e harmonia entre pequenos e médios produtores agrícolas.

 

Dentre as várias estratégias que norteiam suas ações, encontramos:

 

– a articulação  e fortalecimento de suas organizações membros;

– Influenciar centros de decisão dentro de governos e organizações multilaterais para redirecionar práticas agrícolas e econômicas que afetam os produtores de pequena e média escala;

– o fortalecimento da participação feminina em aspectos sociais, econômicos, políticos e culturais;

– a formulação de propostas para questões importantes como: reforma agrária, produção, comércio dos produtos agrícolas, pesquisa, fontes genéticas, biodiversidade e ambiente.

 

Do Brasil, os movimentos que fazem parte da Via Campesina são o Movimento dos Mulheres Camponesas (MMC), o Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), o Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST) e o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) Brazil

Recentemente, a invasão do horto florestal da Aracruz Celulose, em Guaíba, no Rio Grande do Sul, por integrantes do MST e do MMC trouxe à baila questões sobre o limite das manifestações e mobilizações destes e de outros grupos que encontram-se à deriva da sociedade instituída.

Mesmo pessoas que geralmente viam com bons olhos o movimento dos sem-terra e afins acabou por repudiar intensamente a completa destruição da sede da Aracruz. A forma poética com que os meios de comunicação de massa apresentaram o tema, não deixa para o telespectador comum nenhuma dúvida sobre qual posição tomar.

O fato é que, apesar de sentir que o procedimento tomado (invasão e destruição quase que completa do horto e dos equipamentos de pesquisa) pareceu exceder os limites do bom senso, devemos tentar entender a motivação por trás deste ato violento. A justificativa fornecida pelo MMC é expressa em um manifesto, do qual podemos subtrair a seguinte passagem explicativa: “Somos contra os desertos verdes, as enormes plantações de eucalipto, acácia e pinus para celulose, que cobrem milhares de hectares no Brasil e na América Latina. Só no estado do Rio Grande do Sul já são 200 mil hectares de eucalipto. Onde o deserto verde avança a biodiversidade é destruída, os solos deterioram, os rios secam, sem contar a enorme poluição gerada pelas fábricas de celulose que contaminam o ar, as águas e ameaçam a saúde humana. A terra deve cumprir função social, não comercial. Deve alimentar a vida não os lucros. Defendemos a agricultura camponesa que produz comida preservando a biodiversidade, respeitando a pluralidade cultural das populações e gerando trabalho, renda e dignidade para muita gente”

Levando-se em consideração este novo ponto de vista, o prisma pelo qual podemos passar a analisar a questão torna-se mais complexo e com mais saídas de luz possíveis.

Não pretendo chegar aqui a conclusão definitiva sobre o fato, só quero fazer pensar e lembrar que, em qualquer situação que enfrentemos, há sempre pelo menos dois pontos de vista. É função e necessidade de pessoas esclarecidas sempre atentar para isso, principalmente em um mundo em que os meios de comunicação de massa normatizam e normalizam os indivíduos, tornando-os uma pasta uniforme  que não é incitada a pensar por si mesmo, somente a digerir a matéria pasteurizada e tratada por eles fornecida.

Rafael Reinehr

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