Bem, na verdade eu não teria nada para escrever se não fosse algumas coisas que me vieram à mente a alguns minutos atrás. Atualmente estou lendo o livro “O Homem e seus Símbolos” de Carl Gustav Jung e é mais ou menos sobre ele que quero escrever.
É um livro de fácil compreensão que vem dar uma base ao estudo da psicologia Junguiana a qual se diferencia da Freudiana por aspectos como a valorização do inconsciente não só como um depósito de material reprimido (como diz Freud), mas também como um lugar de onde se pode tirar coisas trazendo à consciência como um produto desde sempre inconsciente. Isto é, Jung considerava o inconsciente como um lugar também de criação ou produção e não somente um depósito inerte como o era para Freud.
Seguindo, o livro trata da dimensão simbólica do homem desde sempre e como a racionalidade veio a destruir a importância original que os símbolos exerciam sobre o homem. Com certeza não é só essa a mensagem do livro, mas infelizmente não terminei de lê-lo ainda e minha contribuição não será tão rica devido aos meus poucos conhecimentos acerca da psicologia Junguiana – e aqui até faço um apelo para meus amigos estudiosos de Jung para que me ajudem caso esteja errada.
Agora então, finalmente, começo. O homem é um ser que se utiliza símbolos para viver. Em outro texto já havia escrito acerca da linguagem humana e lembro que em algum momento falei da dimensão inconsciente dessa. E aqui encontro um bom gancho para começar o que quero dizer. O homem desde sempre utilizou a simbologia a qual trazia junto consigo um aspecto inconsciente que lhe conferia importância nas decisões das sociedades primitivas. Antigamente, sonhos, visões ou premonições assumiam o papel de mensagens as quais dirigiam a ação e indicavam o caminho para o homem. Um exemplo disso são os personagens dos filmes que vemos como feiticeiros, pajés, magos, etc os quais possuíam o poder de receber mensagens do além. A forma de se interpretar esse fenômeno não mudaria se fosse transposto para os dias atuais, ou seja, seriam frutos da imaginação ou do inconsciente. A diferença está na forma como, antigamente, o homem percebia esses eventos (sonhos, visões, intuições, premonições), e lhes conferia uma devida importância. Suas ações e decisões eram baseadas nessas mensagens vindas do inconsciente. O que aconteceu com o homem moderno foi a perda dessa percepção ou a desvalorização dela. O homem continua sonhando e tendo intuições, mas não lhe confere a sua devida importância. O homem moderno passou por cima dos símbolos que estão presentes nos sonhos que tem todas as noites. Deixou de prestar atenção às suas intuições num mundo que perdeu a dimensão irracional, e vive como se não houvesse nada além da sua consciência. Com isso, perdeu a capacidade de se perceber como um ser simbólico que vive rodeado de símbolos conscientes e inconscientes.
Em certo trecho do livro, Jung ressalta o começo do fim da simbologia humana com o surgimento do cristianismo, ou seja, com a instituição de um Deus único e soberano em detrimento dos antigos “deuses” da natureza. Esse fenômeno acarretou o fim da simbologia atribuída à natureza em geral – a Deusa do lago, a Mãe natureza, e a crença de que todos os seres pertencentes ao mundo possuíam vida ou alma como as árvores por exemplo. Porém, o que aconteceu foi uma troca – digamos desvantajosa – entre milhares de “pequenos deuses” por um único e grandioso Deus mostrado pela igreja. Todo o resto era então desvalorizado e desacreditado. É como se ficasse uma grande falta de significado ou de essência em nosso mundo: tudo foi trocado por uma única coisa que passou a simbolizar tudo. Meio complicado isso né ?! Mas o problema não foi exatamente a troca de vários deuses por um só, o problema parece que está no fato de que não se colocou nada nos lugares que eram antes preenchidos por algum sentido ou significado, e o mundo parece que ficou assim mesmo: cheio de falta de significado. A luz da igreja fez nascer um homem “sozinho”. Tudo isso contribuiu para a desvalorização do nosso próprio inconsciente – nosso primeiro guia. Tudo que é muito próximo do homem não é tido como sagrado nem tampouco digno de ser valorizado.Talvez o homem antigo fosse mais feliz com seu mundo tão cheio de significado, e suas crenças tão menos carregadas de pecado e culpa.
Comente!