Um dia encontrei alguém chorando, debruçado sobre os joelhos numa escada. Perguntei se podia ajudar. Me disse que não. Contei-lhe uma fábula sobre a felicidade e a confiança. O olhar vago que a seguiu (sabe peixe-morto?) denunciou o pouco efeito que alcançara.
Não desisti, convidei para tomar um chopp. Me disse que não podia deixar sua tristeza ali. Não é problema, falei, traga-a junto. Mas ambos não quiseram, então resignei-me.
Olhei o trem que passava sobre o viaduto logo acima. Caminhei lentamente até o alto, esperando o próximo trem, pensando em ter meus passos interrompidos por um lampejo de alguém, mesmo que fosse eu, voltando a realidade. Cheguei ao ponto certo, o trem já emitia seu som estridente, rangendo nos trilhos paralelos sem infinito. No último segundo, sem dar ao menos uma chance de sobreviver ao tocar o solo e saltar para algum lado a joguei.
Desci as escadas sem aquele peso. Passei pela mesma cena, sem ficar chocado, chateado ou mesmo irritado pela minha falta de sensibilidade…
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