Sei deste Anjo que vimos voar sozinho
muito antes mesmo de saber quem somos
Suas asas nunca nos acudiram do ladrilho frio deste caminho
E seu rosto de inocência é tolo demais para onde vamos.
Sua coroa perolada só nos foi valiosa na ironia
Enquanto sussurrávamos nosso intrépido langor
Aquele mesmo de nossa mais infantil fantasia
Entre nossos veludos, poesias, relicários e licor.
Ele, que havia se encantado na tua voz, Izabela
Atrevia-se, entre cores vivas e suaves de aquarela,
A tocar suas baladas de intolerável e enfermo espanto
Dedilhando sua harpa pura e serenamente em prantos.
Inebriado e tímido entre tuas lamúrias de desconfiança
O Anjo voa no silêncio da incerteza em nós refletida
Banhando com a dura e fria luz de seus olhos de criança
A vingança que navega nas mornas águas de nossa vida.
Hoje, quando no silêncio mais calmo posso ouvir
O Anjo chora pelo antes, pelo agora e pelo nosso partir
Sem saber que à vida, se lhe falta maldade e fina esperteza
Sobra-lhe, como conosco, apenas ossos duros por natureza.
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