lixo, sacos plásticos
os bueiros entupidos –
enchente outra vez…
***
o rumor do mar
sombra dos chapéus-de-sol –
a garça descansa
***
“ Quantas vezes me pergunto se isto não é mais do que escrita, numa época em que corremos para o engano entre equações infalíveis e máquinas de conformismos? Mas perguntar se saberemos encontrar o outro lado do hábito ou se mais vale se deixar levar pela sua alegre cibernética, não será mais uma vez literatura? Revolta, conformismo, angústia, alimentos terrestres, todas as dicotomias: o Yin e o Yang, a contemplação ou a Tatigkeit, aveia enrolada ou perdizes faisandées, Lascau ou Mathieu, que rede de palavras, que dialética de bolso com tormentas em pijama e cataclismos de living room. ”
– Julio Cortázar, O Jogo da Amarelinha, p. 442.
Reverter
inventar um novo olhar
o outro lado do hábito
desarmar o conformismo
despoluir todo hálito
tratar águas e esgotos
proteger todos os botos
nessa esfera em que habito…
e tem que ser bem agora,
não dá pra esperar mais!
desentupir os bueiros
purificar qualquer cais –
buscar sensibilidade,
luz e amabilidade…
harmonia e seus sinais
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Referências :
– 73 – Julio Cortázar, in O Jogo da Amarelinha.
Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2007, 12ª ed., p. 442.
– foto : Clarice Villac, janeiro 2011, Caraguatatuba, SP.
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